1° Registro - Princípio do caos – Parte 1 de 7

Preciso me comunicar. Extravasar esse sentimento de pânico, medo, terror e angustia. O mundo não é o mesmo desde que toda aquela merda começou... Aquela merda... Estamos trancafiados em nossas residências. Isolados de um mal que nos assola por todos os cantos. Não podemos pisar na rua. Não podemos ter contato com outro ser humano. É proibido. Extremamente proibido. Que bosta de vida! Tudo está um inferno desde que foi decretada essa “quarentena residencial”. Estou relatando isso para não enlouquecer. Não consigo ficar parado. Na TV só se sabe falar desse caos. Mais nada. Na internet é o mesmo. Inúmeros sites nos trazem as noticias em tempo real. É só tragédia. Queria poder conversar com alguém. Meu irmão, minha namorada. Meu irmão está numa situação muito complicada. Militar a um ano e meio ele está totalmente a serviço da cidade, monitorando e patrulhando as ruas de Taubaté. Minha namorada está em sua casa, com os pais. Ela mora na cidade vizinha. Uns 20 minutos de carro. Preciso vê-los. Vou enlouquecer se continuar nesse apartamento. Não adianta sair no corredor. Ninguém ousa colocar a cabeça pra fora da porta. Estão todos presos em seus apartamentos. Converso com algumas pessoas pela internet, com meu irmão e minha namorada pelo celular, mas não é a mesma coisa. Só sabem falar do que aconteceu. Do enorme problema que estamos passando.

Tudo começou há mais ou menos um mês atrás, no inicio do inverno. 25/06/2012. Todos levavam suas vidas normalmente. Sempre tivemos problemas em nossa volta e muitos deles passavam despercebidos. Mas esse problema começou a tomar uma proporção global fora do comum. Os que antes eram casos isolados começaram a tomar espaço na mídia. Era simples e assustador: O vírus H1N1, mais conhecido como Influenza A ou "gripe suína" havia retornado. Mas desta vez ele era uma mutação do antigo vírus, que matou mais de dezoito mil pessoas (duas mil pessoas só no Brasil) em meados de 2009. Esse acontecimento foi previsto em 2010 e depois novamente em 2011. Mas nunca aconteceu. Infelizmente de 2012 não passou. O primeiro caso foi registrado novamente no México. Mesmo local que foi registrado o primeiro caso da Influenza A. Porem ninguém sabia ou não queria dar uma informação mais concreta. Talvez para não assustar o povo.

27/06/2012. Passaram-se dois dias quando eu comecei a perceber que as coisas estavam fora do normal. Era quase onze horas da noite quando um plantão de notícias interrompeu a programação da TV. Eu estava no sofá com minha namorada enquanto meu irmão pedia uma pizza pelo telefone. Além de a notícia ser ruim o repórter não ajudava em nada, pois ele falava de um jeito assustador. Ele foi simples e claro: Em menos de dois dias foram confirmados “alguns”, isso mesmo, alguns casos da nova gripe na América do Norte, precisamente no México, num vilarejo chamado “Cocula”. Desses “alguns” casos haviam sido confirmadas cinco mortes. Ele falou que o plantão voltaria com mais noticias no decorrer da noite. E assim a programação voltou ao normal. Ficamos um pouco assustados. É lógico que inúmeras mortes por inúmeros vírus acontecem todos os dias no mundo. Mas ficamos mais assustados por recordarmos o susto que levamos em 2009. Eu me lembro até hoje. O retorno para as aulas em toda a rede de ensino foi adiado. Pediam para evitarmos o transporte publico e lugares fechados com muitas pessoas. Só no Brasil havia mais de cinquenta mil casos confirmados da gripe. Foi um terror. A Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou em pouco mais de 1 mês que a situação era de nível 6, ou seja, era decretada a pandemia. Graças a Deus quase 1 mês depois de decretada a pandemia tudo começou a voltar ao normal quando o vírus começou a regredir. São essas lembranças que nos deixou assustados. Não queríamos passar por isso novamente. Naquela noite eu não sei se o plantão voltou, pois ficamos assistindo filme.

Vou parar de escrever. Preciso descansar um pouco. Se o pessoal gostar do que eu escrevi aqui, eu continuo escrevendo. Sei que todos estão necessitando de contato e isso pode ser uma forma de nos mantermos ligados e unidos. Agora a pouco ouvi sirenes. Alguma coisa está acontecendo aqui na rua. Vou dar uma checada.

Boa noite.

Postado 24/07/2012 ás 20h32. Taubaté-SP

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