4º Registro - Princípio do caos - Parte 4 de 7


Ontem chorei feito um bebê no telefone com minha namorada. Essa porcaria toda está afetando nossas mentes. Que falta faz um abraço de uma pessoa amada nesses tempos difíceis. Meu irmão, coitado. Faz dias que ele não sabe o que é descansar. Está vivendo no quartel militar. Sempre tento ligar pra ele pra saber como andam as coisas, pra saber se ele sabe de alguma notícia. Porem ele não sabe de nada. Só recebe ordens. Mas enfim. Continuemos.

Foi no dia 10/07/2012, uma terça-feira, quando as vacinas para a Influenza Z começaram a ser distribuídas no Brasil. Naquele momento as mortes no Brasil já passavam dos seis mil. Bem mais que em 2009. Os casos confirmados eu nem faço ideia de quantos eram. Os governos municipais insistiam em aconselhar a ninguém viajar para fora de suas cidades enquanto não fosse seguro. Isso era mais do que óbvio.

O medo tomou conta da população. Era nítido na rua ver os transportes públicos praticamente vazios. Pessoas com mascaras. Hospitais superlotados. Era o caos. Ainda bem que a rede de ensino estava em férias. Ganhamos duas semanas de férias coletivas no trabalho. E acho que praticamente todos os trabalhadores fizeram isso. Muitas lojas fecharam as suas portas e assim permaneceram. Eventos esportivos foram suspensos. Na TV só se falava do vírus. Era nítido ver que as emissoras estavam trabalhando com pessoal reduzido. As pessoas iam se ausentando de seus trabalhos, ora pela doença do vírus, ora por precaução. Era triste ver a nota de falecimento de famosos da TV, jogadores de futebol. Realmente triste. Nas cidades os supermercados ficaram superlotados. Todos pensaram o mesmo: Abarrotar suas despensas e ficar em casa. Quem diria que alguns dias depois a ideia de ficar em casa se tornaria uma ordem. Mas estou me antecipando aos fatos.

Rapidamente meu irmão e eu fomos tomar nossas vacinas. Foi quando meu irmão disse que o exército iria ficar de prontidão para algum problema maior. Como assim? Algum problema maior do que o problema que já estava acontecendo? “São ordens” disse ele. Isso mexeu com minha cabeça. Porque o exército ficaria de prontidão para algum problema maior? É lógico que estávamos todos ferrados com essa gripe. Mas um problema maior? Meu Deus. Assim que cheguei em minha residência fui fuçar a internet para saber se algo mais estava acontecendo no mundo. As noticias eram poucas e quase sem informação nenhuma. No México finalmente uma noticia surgiu. Calderón enviou uma solicitação de próprio punho para Barack Obama, presidente americano, solicitando a presença da equipe do CDC (Centers for Disease Control, ou Centro de controle de Doença em português). A solicitação dizia que o CDC deveria analisar os infectados pelo vírus antes que os mesmos viessem a óbito. Assustador.

Infelizmente alguns conhecidos contraíram a gripe e não aguentaram. Vieram a falecer. Foram dias tristes. Em menos de quatro dias compareci a cinco velórios. Um deles foi de um colega de trabalho. Um homem de cinquenta e poucos anos que deixou esposa e três filhos. Era de cortar o coração. O velório estava praticamente vazio. Só familiares e amigos BEM próximos. Muitas pessoas usavam mascaras e evitavam contato físico, como um abraço de consolação.

Nos dias que se seguiram as coisas começaram a ir para o buraco. E foi quando minha namorada e eu decidimos encarar o desafio de ir até o supermercado e abarrotar a minha despensa. Compramos de tudo um pouco. Principalmente comida congelada e enlatados. Meu irmão aproveitou um dia de descanso e trouxe dez pacotes de ração militar. Aquele troço é ruim pra burro, mas é uma mão na roda. Meu irmão nos ensinou a usar. É só colocar agua quente num pacotinho de arroz e já era. Bom apetite.

No mundo as coisas estavam se ferrando de vez. As fronteiras internacionais estavam fechadas. Aeroportos, portos marítimos e todo o tipo de fronteira existente. Ninguém saia ou entrava em qualquer país com casos do vírus. Não havia mais informação sobre o numero de infectados e nem o numero de mortos. Nem mesmo no Brasil. Na internet as noticias eram desatualizadas. Na TV os principais jornais davam plantão de hora em hora para dizer uma coisa ali, uma coisa aqui, mas nenhuma noticia concreta e esclarecedora. A única noticia interessante que tivemos foi que o CDC retornou do México e disse que o vírus realmente havia se transformado e que era extremamente perigoso para a humanidade. Um cientista aconselhou evitar qualquer tipo de contato com quem apresentasse um dos sintomas da Influenza Z. Aconselhou também que todos tomassem a vacina contra o vírus. De resto não sabíamos mais nada. Segundo um blog americano, o presidente Obama havia se retirado da Casa Branca e ido para um abrigo militar secreto. Por falar em blogs, eu vi um blog de uma amiga. Ela é enfermeira no Hospital Regional aqui de Taubaté. No blog ela relatava o caos que era o hospital. Corredores superlotados de pessoas doentes. Eram tantas pessoas que muitos faleciam no corredor e só eram notados dias depois, quando começava a cheirar verdadeiramente mal. Os mortos eram empacotados em sacos pretos e largados num enorme galpão atrás do hospital. Esse era o terror que estava acontecendo a menos de dois quilômetros do meu apartamento. O inferno estava tomando conta da terra.

Postado 27/07/2012 ás 12h07. Taubaté-SP

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