Ainda
estou tremendo e acho que ainda não me recuperei do choque. Acho que estou
entrando em pânico. Eu não sabia pra onde ir, o que fazer. Ao ver o notebook na
cama eu o peguei e comecei a digitar sem parar. Preciso descarregar a
adrenalina que ainda estou sentindo. Fico olhando pra todos os lados. Minhas
mãos ainda tremem. Que pesadelo. Merda! Merda! Merda! Estou sonhando?
Creio
que não... Infelizmente não...
Preciso
relatar aqui o que acabei de presenciar. Meu Deus. Ainda não acredito nisso
tudo. Não sei se alguém vai ler, mas vou escrever mesmo assim. Preciso disso.
Preciso...
Abri
meus olhos e vi que uma fraca luz brotava pela janela do meu quarto. “Mais uma
vez dormir a noite inteira”, pensei comigo. Mas naquele momento o que mais
havia me chamado atenção era que eu estava normal. A dor de cabeça, dor no corpo,
tosse, febre e calafrios não existiam mais. Eu estava curado do que quer que eu
tenha ficado doente. Me despreguicei e bati a mão no notebook que ainda estava
na cama. Me levantei e rapidamente fui tomar um bom banho. Ai sair do banheiro eu
ouvi um barulho que provavelmente estava vindo do apartamento de cima. Me
troquei e fiz um rápido café. Passei o olho pelo meu quarto e vi o celular
carregando. Ou ainda conectado, pois já havia carregado por completo. Quando
peguei o celular, meu coração quase parou. Duzentas e quatro ligações não
atendidas. Cento e dezoito só da minha namorada. As ligações restantes eram do
meu irmão. Foi então que vi algo que me assustou completamente. Era dia 02 de
agosto. 02 de agosto? Isso fez minha cabeça girar. Por quanto tempo eu dormi?
Impossível. Dormir três dias diretos é impossível. Acordei limpo. O que quero
dizer é que acordei algumas vezes pra ir ao banheiro, beber agua. Como não me
lembro disso? Me sinto como se tivesse me deitado a noite e acordado na manhã
do dia seguinte. Tentei ligar para minha namorada e para meu irmão, mas o
celular estava sem sinal.
Tentei
ligar o notebook, mas ele estava descarregado. Coloquei ele pra carregar quando
ouvi outro barulho. Dessa vez no apartamento ao lado. O apartamento do senhor
Francisco. Vesti uma camiseta e sai do meu apartamento. O hall do elevador estava vazio. Aqui são quatro apartamentos por andar. Então eu via duas portas
na minha frente e a porta da apartamento do senhor Francisco ao meu lado
direito. Era um hall pequeno, de uns doze metros quadrados. Duas portas de
frente pra duas portas, um elevador do lado esquerdo e a porta das escadas do
lado direito.
O
hall estava todo escuro e a luz automática que sempre acendia quando detectava
alguém não acendeu. Ameacei bater na porta do senhor Francisco quando percebi
que a mesma estava semi aberta. Mesmo assim dei duas batidas leves e aguardei.
Ninguém veio me atender ou respondeu de dentro. Ouvi um barulho vindo de dentro
do apartamento e por alguns segundos cogitei retornar, mas o simples fato de
terem se passado três dias me fez pensar que alguma coisa poderia estar errada.
Meu coração disparou e tive um leve calafrio. Senti medo. Sem saber o porquê,
eu senti medo. Abri a porta do apartamento e uma cena estranha me foi revelada.
O
apartamento estava revirado. A mesa da sala estava caída e quebrada. O sofá
estava fora de lugar. Mas o que me fez congelar e recuar foi ver manchas de
sangue nas paredes. Sem dar um passo a mais eu peguei meu celular e liguei para
a policia. Em vão. Nem se quer chamou. Pensei em voltar até que ouvi outro
barulho vindo do corredor que levava para os quartos.
–
Rodrigo? – chamei perguntando.
Ouvi
outro barulho e em seguida barulho de passos. Alguém estava vindo ao meu
encontro.
Meu Deus
do céu. Começo a tremer só de lembrar. O que era aquilo? O que era aquilo?
Ouvi
os passos se aproximando da sala. Eram lentos e arrastados. Quem quer que
estivesse se aproximando estava emitindo sons estranhos, tipo gemidos de dor.
Senti meu coração se apertar. Dei dois passos para trás e fiquei na entrada do
apartamento.
Então
ela apareceu...
Meu
coração quase saltou pela boca. Minhas pernas tremeram e me senti fraco. Um calafrio
percorreu minha espinha e minhas mãos tremeram. A senhora Fátima. Que havia
morrido poucos dias atrás. Em pé. Caminhando em minha direção saindo do
corredor dos dormitórios. Uma cena tirada do fundo do inferno. Usava uma
camisola de seda que deveria ser rosa, ou coisa do tipo, mas naquela hora
estava encardida de sangue seco. O corpo estava todo inchado e cheio de marca
de veias estouradas. As mãos estavam sujas de sangue. E o rosto dela... Meu
Deus... Nunca vou esquecer essa visão.
O
rosto... O rosto estava todo inchado. A boca rasgada e cheia de sangue
escorrendo pelo queixo e caindo pelo pescoço. As sobrancelhas inchadas e quase
cobrindo os olhos brancos e cheios de pus misturado com sangue viscoso. O
cabelo estava todo bagunçado. Um enorme corte na testa estava cheio de pus e
sangrando.
Eu
fique paralisado de medo. Aquela cena tão impressionante acabou prendendo
minhas pernas no chão. Até aquele momento aquela senhora, ou o que quer que fosse ela, não havia percebido minha presença na entrada do apartamento. Ela
continuou caminhando e pude ver uma faca de cozinha cravada nas suas costas, um
pouco abaixo do ombro direito. Dei mais um passo pra trás e acabei esbarrando
na porta. O barulho fez a velha olhar rapidamente pra mim. Um gemido desumano
brotou de sua boca e ela abriu os braços em minha direção.
–
Dona Fátima? – perguntei inocentemente.
Escrevendo
isso chego a caçoar de mim mesmo. Como foi ridícula minha reação. Mas eu ainda
não imaginava com o que estava lidando.
A
velha continuou a caminhar em minha direção, até que ela tropeçou no sofá
atravessado na sala e se espatifou no chão. Ela rolou pelo chão da sala e fez a
faca que estava em suas costas rasgar ainda mais a sua pele.
Foi
ai que percebi que o que estava na minha frente não era humano.
Minha
mente processou as informações em segundos. Eu não ficaria ali parado
observando aquela cena do inferno nem mais nenhum segundo. Foi então que ao me
virar dei de cara com o senhor Francisco.
Porem ele estava longe de ser o senhor Francisco que eu conhecia...
Postado 02/08/2012 ás 17h12.
Taubaté-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário