9° Registro - O Despertar dos Mortos - Parte 1 de 5


Ainda estou tremendo e acho que ainda não me recuperei do choque. Acho que estou entrando em pânico. Eu não sabia pra onde ir, o que fazer. Ao ver o notebook na cama eu o peguei e comecei a digitar sem parar. Preciso descarregar a adrenalina que ainda estou sentindo. Fico olhando pra todos os lados. Minhas mãos ainda tremem. Que pesadelo. Merda! Merda! Merda! Estou sonhando?

Creio que não... Infelizmente não...

Preciso relatar aqui o que acabei de presenciar. Meu Deus. Ainda não acredito nisso tudo. Não sei se alguém vai ler, mas vou escrever mesmo assim. Preciso disso. Preciso...

Abri meus olhos e vi que uma fraca luz brotava pela janela do meu quarto. “Mais uma vez dormir a noite inteira”, pensei comigo. Mas naquele momento o que mais havia me chamado atenção era que eu estava normal. A dor de cabeça, dor no corpo, tosse, febre e calafrios não existiam mais. Eu estava curado do que quer que eu tenha ficado doente. Me despreguicei e bati a mão no notebook que ainda estava na cama. Me levantei e rapidamente fui tomar um bom banho. Ai sair do banheiro eu ouvi um barulho que provavelmente estava vindo do apartamento de cima. Me troquei e fiz um rápido café. Passei o olho pelo meu quarto e vi o celular carregando. Ou ainda conectado, pois já havia carregado por completo. Quando peguei o celular, meu coração quase parou. Duzentas e quatro ligações não atendidas. Cento e dezoito só da minha namorada. As ligações restantes eram do meu irmão. Foi então que vi algo que me assustou completamente. Era dia 02 de agosto. 02 de agosto? Isso fez minha cabeça girar. Por quanto tempo eu dormi? Impossível. Dormir três dias diretos é impossível. Acordei limpo. O que quero dizer é que acordei algumas vezes pra ir ao banheiro, beber agua. Como não me lembro disso? Me sinto como se tivesse me deitado a noite e acordado na manhã do dia seguinte. Tentei ligar para minha namorada e para meu irmão, mas o celular estava sem sinal.

Tentei ligar o notebook, mas ele estava descarregado. Coloquei ele pra carregar quando ouvi outro barulho. Dessa vez no apartamento ao lado. O apartamento do senhor Francisco. Vesti uma camiseta e sai do meu apartamento. O hall do elevador estava vazio. Aqui são quatro apartamentos por andar. Então eu via duas portas na minha frente e a porta da apartamento do senhor Francisco ao meu lado direito. Era um hall pequeno, de uns doze metros quadrados. Duas portas de frente pra duas portas, um elevador do lado esquerdo e a porta das escadas do lado direito.

O hall estava todo escuro e a luz automática que sempre acendia quando detectava alguém não acendeu. Ameacei bater na porta do senhor Francisco quando percebi que a mesma estava semi aberta. Mesmo assim dei duas batidas leves e aguardei. Ninguém veio me atender ou respondeu de dentro. Ouvi um barulho vindo de dentro do apartamento e por alguns segundos cogitei retornar, mas o simples fato de terem se passado três dias me fez pensar que alguma coisa poderia estar errada. Meu coração disparou e tive um leve calafrio. Senti medo. Sem saber o porquê, eu senti medo. Abri a porta do apartamento e uma cena estranha me foi revelada.

O apartamento estava revirado. A mesa da sala estava caída e quebrada. O sofá estava fora de lugar. Mas o que me fez congelar e recuar foi ver manchas de sangue nas paredes. Sem dar um passo a mais eu peguei meu celular e liguei para a policia. Em vão. Nem se quer chamou. Pensei em voltar até que ouvi outro barulho vindo do corredor que levava para os quartos.

– Rodrigo? – chamei perguntando.

Ouvi outro barulho e em seguida barulho de passos. Alguém estava vindo ao meu encontro.

Meu Deus do céu. Começo a tremer só de lembrar. O que era aquilo? O que era aquilo?

Ouvi os passos se aproximando da sala. Eram lentos e arrastados. Quem quer que estivesse se aproximando estava emitindo sons estranhos, tipo gemidos de dor. Senti meu coração se apertar. Dei dois passos para trás e fiquei na entrada do apartamento.

Então ela apareceu...

Meu coração quase saltou pela boca. Minhas pernas tremeram e me senti fraco. Um calafrio percorreu minha espinha e minhas mãos tremeram. A senhora Fátima. Que havia morrido poucos dias atrás. Em pé. Caminhando em minha direção saindo do corredor dos dormitórios. Uma cena tirada do fundo do inferno. Usava uma camisola de seda que deveria ser rosa, ou coisa do tipo, mas naquela hora estava encardida de sangue seco. O corpo estava todo inchado e cheio de marca de veias estouradas. As mãos estavam sujas de sangue. E o rosto dela... Meu Deus... Nunca vou esquecer essa visão.

O rosto... O rosto estava todo inchado. A boca rasgada e cheia de sangue escorrendo pelo queixo e caindo pelo pescoço. As sobrancelhas inchadas e quase cobrindo os olhos brancos e cheios de pus misturado com sangue viscoso. O cabelo estava todo bagunçado. Um enorme corte na testa estava cheio de pus e sangrando.

Eu fique paralisado de medo. Aquela cena tão impressionante acabou prendendo minhas pernas no chão. Até aquele momento aquela senhora, ou o que quer que fosse ela, não havia percebido minha presença na entrada do apartamento. Ela continuou caminhando e pude ver uma faca de cozinha cravada nas suas costas, um pouco abaixo do ombro direito. Dei mais um passo pra trás e acabei esbarrando na porta. O barulho fez a velha olhar rapidamente pra mim. Um gemido desumano brotou de sua boca e ela abriu os braços em minha direção.

– Dona Fátima? – perguntei inocentemente.

Escrevendo isso chego a caçoar de mim mesmo. Como foi ridícula minha reação. Mas eu ainda não imaginava com o que estava lidando.

A velha continuou a caminhar em minha direção, até que ela tropeçou no sofá atravessado na sala e se espatifou no chão. Ela rolou pelo chão da sala e fez a faca que estava em suas costas rasgar ainda mais a sua pele.

Foi ai que percebi que o que estava na minha frente não era humano.

Minha mente processou as informações em segundos. Eu não ficaria ali parado observando aquela cena do inferno nem mais nenhum segundo. Foi então que ao me virar dei de cara com o senhor Francisco.

Porem ele estava longe de ser o senhor Francisco que eu conhecia...

Postado 02/08/2012 ás 17h12. Taubaté-SP

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