12° Registro - O Despertar dos Mortos - Parte 4 de 5


Assim que desliguei o notebook, encontrei com Rodrigo na sala e planejamos nossa ida até o terraço. Seria simples e rápida. Pegaríamos o elevador e iriamos até o terraço. De lá teríamos uma vista melhor da situação nos derredores e poderíamos encontrar um local bom para fugir.

Simples...

Nem tanto...

Aquela era a primeira vez que abríamos a porta do meu apartamento depois do ocorrido no apartamento do senhor Francisco. Assim que abrimos a porta, o cheiro de podridão vindo do hall de entrada tomou conta do meu apartamento. Percebi que a porta do apartamento em frente ao meu estava aberta. Imaginei que poderia ter sido de lá que o senhor Francisco tenha vindo e me surpreendido quando dei de frente com ele na porta do apartamento.

Rodrigo ficou em alerta enquanto eu corri e rapidamente apertei o botão para chamar o elevador. O barulho que fez foi sinistro, já que tudo estava num silencio absoluto. Não distante dali nós ouvimos um barulho de algo caindo ou coisa do tipo. Não ficamos ali pra ver o que era, pois o elevador já tinha chegado. Nós tomamos um susto quando a porta do elevador se abriu. No espelho que fica na parede interna havia marcas de mãos feitas com sangue. As manchas escorriam até o fim do elevador, dando a entender que alguém havia sido arrastado dali de dentro. No chão uma sacola caída com roupas femininas. Infelizmente alguém estava tentando fugir e foi surpreendido.

Trocamos olhares, mas não pensamos duas vezes em entrar e acionar o botão do terraço.

Nos poucos segundos que ficamos ali dentro, sentimos uma tensão apavorante tomando conta do ambiente. Estávamos ligados numa tomada 220V. Nossos corações estavam totalmente acelerados. A adrenalina já percorria nossos corpos. A vontade de voltar era tremenda. Estávamos cagando de medo. Mas já estávamos lá em cima. Tínhamos que fazer aquilo.

Quando a porta do elevador se abriu, nos foi revelado um pequeno hall onde ficava uma salinha de manutenção. Caminhamos para fora lentamente, olhando para todos os lados. Fora daquele pequeno hall havia as duas caixas d’agua do lado direito e mais nada. Nos aproximamos do parapeito do prédio e dali vimos toda a área externa lá embaixo. A boa notícia era que o portão de entrada para pedestres estava fechado, ou seja, ninguém da rua entraria ali. A má noticia era que toda a área externa estava lotada de mortos. Muitos deles. Aquela era a má noticia porque meu carro ficava na área externa, e pela situação seria praticamente impossível chegar até ele.

– Temos que usar o plano B. – disse eu.
– Sinto calafrios só de pensar. – comentou Rodrigo olhando para baixo. – Mas se vamos fazer, que seja agora. Não fico mais nenhum minuto aqui. Preciso encontrar minha mãe.
– Não seja irracional Rodrigo. Sair correndo feito louco só vai te prejudicar. Imagina se o pior acontece? O que seria da sua mãe sem você vivo?
– O problema é que já ficamos muito tempo nesse prédio Gabriel. Não aguento mais. Sinto que vou es...

O que quer que Rodrigo fosse falar foi interrompido por um barulho vindo detrás de nós. Assim que olhei já dei dois passos para o lado e ameacei correr. Porem tive que me conter, pois a situação estava complicada. O primeiro zumbi que nos assustou era um homem de cerca de trinta e cinco anos. Era careca e musculoso. Tinha uma enorme ferida no antebraço de onde brotava sangue seco. Vestia uma camiseta branca e um short de futebol azul. Eu conhecia aquele sujeito. Infelizmente era um amigo. Seu nome era Pedro. Quando ameacei correr vi que atrás de Pedro apareceram mais três criaturas. Duas mulheres e um senhor. Eles eu nunca tinha visto na minha vida.

Rodrigo tomou impulso e desferiu o golpe acertando a cabeça de Pedro. Porem, só um pequeno corte se abriu na careca do morto, enquanto o cabo da vassoura havia se partido em dois. Antes mesmo de conseguir se afastar, Rodrigo foi agarrado por Pedro que estava muito próximo dele. Eu corri e também desferi meu golpe, acertando a nuca do zumbi. Porem, infelizmente, o cabo também se partiu em dois. O golpe serviu pra chamar a atenção da criatura, que agora voltava suas atenções pra mim.

Assim que ele tentou me agarrar, eu me esquivei dele e o segurei pelo braço.

– Rodrigo! Agora.

Gritei para Rodrigo segurar o outro braço. Assim ele o fez e juntos lançamos a criatura lá do terraço. Não ficamos olhando, mas ouvimos quando o corpo atingiu o chão. O som seco de um corpo já sem vida.

Puxei Rodrigo e juntos corremos das outras três criaturas que estavam se aproximando. Entramos no elevador e ficamos aliviados assim que a porta se fechou e o elevador começou a descer.

– Fomos imprudentes ao não ficarmos observando nossas costas. – comentei.
– Mas tudo deu certo.
– Sim.

Foi logo quando eu disse isso. A energia acabou, o elevador travou e ficamos no escuro.

– Não podemos entrar em pânico. – disse eu. Porem, eu mesmo já sentia o coração bater num ritmo fora do comum.
– Quanto tempo nós descemos? Que andar será que nós estamos? – perguntou Rodrigo.
– Não descemos muito. Devemos estar no décimo ou nono andar.
– MERDA! – gritou Rodrigo chutando a porta do elevador.
– Vamos aguardar. A luz de emergência liga dois minutos depois que a luz acaba.

Doce ilusão. Nenhuma luz de emergência ligou depois de dois minutos.

– Temos que sair daqui e ir pelas escadas. – disse eu.
– Está maluco? E trombar com um desses monstros no caminho? No escuro?

Rodrigo estava certo, mas ali não poderíamos ficar. Foi então que senti no meu pé a sacola que estava ali largada.

– Por Deus. Por Deus. – disse eu me abaixando e chegando as coisas que estavam dentro dela.

Dei um suspiro baixo, seguido de um leve sorriso. Sorte? Talvez. Mas eu havia encontrado um celular.

Quando cliquei no aparelho para acender luz, me foi revelado uma foto de um casal. Reconheci a moça da foto. Já havia visto ela algumas vezes no prédio. Acho que era moradora nova. Rodrigo imediatamente pediu pra eu iluminar a porta do elevador.

– Vamos abrir com cuidado. Assim que a porta abrir, você tenta iluminar o lado de fora.

Fizemos uma força, mas conseguimos abrir cerca de trinta centímetros da porta. Com o celular eu iluminei o exterior e percebemos que estávamos quase em um andar. Teríamos que fazer uma força pra subir e sair do elevador. Não vi nada de anormal do lado de fora. Os apartamentos que eu conseguia ver estavam com as portas fechadas. Percebi também que estávamos no nono andar. Teríamos que descer as escadas até o sexto.

– Quem vai primeiro? – perguntou Rodrigo.
– Melhor eu que estou com o celular. – respondi

Fizemos um esforço e abrimos a porta do elevador um pouco mais. Rodrigo levantou o meu pé, me dando impulso para subir e me segurar. Assim que deixei o celular aceso no chão do hall para segurar a porta do elevador e tomar impulso para sair, senti uma mão me agarrando...

Postado 03/08/2012 ás 08h00. Taubaté-SP

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