Assim
que desliguei o notebook, encontrei com Rodrigo na sala e planejamos nossa ida
até o terraço. Seria simples e rápida. Pegaríamos o elevador e iriamos até o
terraço. De lá teríamos uma vista melhor da situação nos derredores e
poderíamos encontrar um local bom para fugir.
Simples...
Nem
tanto...
Aquela era a primeira vez que abríamos a porta do meu apartamento depois do ocorrido
no apartamento do senhor Francisco. Assim que abrimos a porta, o cheiro de
podridão vindo do hall de entrada tomou conta do meu apartamento. Percebi que a
porta do apartamento em frente ao meu estava aberta. Imaginei que poderia ter
sido de lá que o senhor Francisco tenha vindo e me surpreendido quando dei de
frente com ele na porta do apartamento.
Rodrigo
ficou em alerta enquanto eu corri e rapidamente apertei o botão para chamar o
elevador. O barulho que fez foi sinistro, já que tudo estava num silencio
absoluto. Não distante dali nós ouvimos um barulho de algo caindo ou coisa do
tipo. Não ficamos ali pra ver o que era, pois o elevador já tinha chegado. Nós
tomamos um susto quando a porta do elevador se abriu. No espelho que fica na
parede interna havia marcas de mãos feitas com sangue. As manchas escorriam até
o fim do elevador, dando a entender que alguém havia sido arrastado dali de
dentro. No chão uma sacola caída com roupas femininas. Infelizmente alguém
estava tentando fugir e foi surpreendido.
Trocamos
olhares, mas não pensamos duas vezes em entrar e acionar o botão do terraço.
Nos
poucos segundos que ficamos ali dentro, sentimos uma tensão apavorante tomando
conta do ambiente. Estávamos ligados numa tomada 220V. Nossos corações estavam
totalmente acelerados. A adrenalina já percorria nossos corpos. A vontade de
voltar era tremenda. Estávamos cagando de medo. Mas já estávamos lá em cima.
Tínhamos que fazer aquilo.
Quando
a porta do elevador se abriu, nos foi revelado um pequeno hall onde ficava uma
salinha de manutenção. Caminhamos para fora lentamente, olhando para todos os
lados. Fora daquele pequeno hall havia as duas caixas d’agua do lado direito e
mais nada. Nos aproximamos do parapeito do prédio e dali vimos toda a área
externa lá embaixo. A boa notícia era que o portão de entrada para pedestres
estava fechado, ou seja, ninguém da rua entraria ali. A má noticia era que toda
a área externa estava lotada de mortos. Muitos deles. Aquela era a má noticia
porque meu carro ficava na área externa, e pela situação seria praticamente
impossível chegar até ele.
–
Temos que usar o plano B. – disse eu.
–
Sinto calafrios só de pensar. – comentou Rodrigo olhando para baixo. – Mas se
vamos fazer, que seja agora. Não fico mais nenhum minuto aqui. Preciso
encontrar minha mãe.
– Não
seja irracional Rodrigo. Sair correndo feito louco só vai te prejudicar.
Imagina se o pior acontece? O que seria da sua mãe sem você vivo?
– O
problema é que já ficamos muito tempo nesse prédio Gabriel. Não aguento mais. Sinto
que vou es...
O que
quer que Rodrigo fosse falar foi interrompido por um barulho vindo detrás de
nós. Assim que olhei já dei dois passos para o lado e ameacei correr. Porem
tive que me conter, pois a situação estava complicada. O primeiro zumbi que nos
assustou era um homem de cerca de trinta e cinco anos. Era careca e musculoso.
Tinha uma enorme ferida no antebraço de onde brotava sangue seco. Vestia uma
camiseta branca e um short de futebol azul. Eu conhecia aquele sujeito.
Infelizmente era um amigo. Seu nome era Pedro. Quando ameacei correr vi que
atrás de Pedro apareceram mais três criaturas. Duas mulheres e um senhor. Eles
eu nunca tinha visto na minha vida.
Rodrigo
tomou impulso e desferiu o golpe acertando a cabeça de Pedro. Porem, só um pequeno
corte se abriu na careca do morto, enquanto o cabo da vassoura havia se partido
em dois. Antes mesmo de conseguir se afastar, Rodrigo foi agarrado por Pedro que estava muito próximo dele. Eu corri e também desferi meu golpe, acertando a
nuca do zumbi. Porem, infelizmente, o cabo também se partiu em dois. O golpe
serviu pra chamar a atenção da criatura, que agora voltava suas atenções pra
mim.
Assim
que ele tentou me agarrar, eu me esquivei dele e o segurei pelo braço.
–
Rodrigo! Agora.
Gritei
para Rodrigo segurar o outro braço. Assim ele o fez e juntos lançamos a
criatura lá do terraço. Não ficamos olhando, mas ouvimos quando o corpo atingiu
o chão. O som seco de um corpo já sem vida.
Puxei
Rodrigo e juntos corremos das outras três criaturas que estavam se aproximando.
Entramos no elevador e ficamos aliviados assim que a porta se fechou e o
elevador começou a descer.
–
Fomos imprudentes ao não ficarmos observando nossas costas. – comentei.
– Mas
tudo deu certo.
–
Sim.
Foi
logo quando eu disse isso. A energia acabou, o elevador travou e ficamos no
escuro.
– Não
podemos entrar em pânico. – disse eu. Porem, eu mesmo já sentia o coração bater
num ritmo fora do comum.
–
Quanto tempo nós descemos? Que andar será que nós estamos? – perguntou Rodrigo.
– Não
descemos muito. Devemos estar no décimo ou nono andar.
–
MERDA! – gritou Rodrigo chutando a porta do elevador.
–
Vamos aguardar. A luz de emergência liga dois minutos depois que a luz acaba.
Doce
ilusão. Nenhuma luz de emergência ligou depois de dois minutos.
–
Temos que sair daqui e ir pelas escadas. – disse eu.
–
Está maluco? E trombar com um desses monstros no caminho? No escuro?
Rodrigo
estava certo, mas ali não poderíamos ficar. Foi então que senti no meu pé a
sacola que estava ali largada.
– Por
Deus. Por Deus. – disse eu me abaixando e chegando as coisas que estavam dentro
dela.
Dei
um suspiro baixo, seguido de um leve sorriso. Sorte? Talvez. Mas eu havia
encontrado um celular.
Quando
cliquei no aparelho para acender luz, me foi revelado uma foto de um casal.
Reconheci a moça da foto. Já havia visto ela algumas vezes no prédio. Acho que
era moradora nova. Rodrigo imediatamente pediu pra eu iluminar a porta do
elevador.
–
Vamos abrir com cuidado. Assim que a porta abrir, você tenta iluminar o lado de
fora.
Fizemos
uma força, mas conseguimos abrir cerca de trinta centímetros da porta. Com o
celular eu iluminei o exterior e percebemos que estávamos quase em um andar.
Teríamos que fazer uma força pra subir e sair do elevador. Não vi nada de anormal
do lado de fora. Os apartamentos que eu conseguia ver estavam com as portas
fechadas. Percebi também que estávamos no nono andar. Teríamos que descer as
escadas até o sexto.
–
Quem vai primeiro? – perguntou Rodrigo.
–
Melhor eu que estou com o celular. – respondi
Fizemos um esforço e abrimos a porta do elevador um pouco mais. Rodrigo
levantou o meu pé, me dando impulso para subir e me segurar. Assim que deixei o
celular aceso no chão do hall para segurar a porta do elevador e tomar impulso
para sair, senti uma mão me agarrando...
Postado 03/08/2012 ás 08h00. Taubaté-SP
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