13° Registro - O despertar dos Mortos - Parte 5 de 5


O susto foi tão grande que eu acabei me desequilibrando e caindo com tudo no chão do elevador. Para o meu desespero, aquela maldita mão ainda estava segurando o meu braço. Assim que olhei, ainda podendo ver por causa da luz do celular, eu percebi que o braço de quem quer que tenha me agarrado havia sido arrancado na minha queda. Sangue jorrava por todo o chão do elevador. Rodrigo se assustou e tentou entender a situação, e foi quando uma cabeça foi inserida no vão da porta do elevador. Uma criatura horrível apareceu no exato momento que Rodrigo olhava pra cima tentando entender o que estava acontecendo. O homem tinha o rosto podre, com a pele dura e sem o olho esquerdo. De sua boca pingava sangue misturado com vômito, ou coisa do tipo.

– Ele vai escorregar pra dentro Rodrigo! Temos que fechar a porta! – eu gritei jogando no chão o braço que estava me agarrando.

Sem esforço nenhum nós fechamos a porta, prensando a cabeça da criatura. O monstro estava tão podre que facilmente a porta decepou sua cabeça. A boa notícia era que estávamos livres do ataque daquele zumbi. A má era que novamente estávamos no escuro, pois o celular havia ficado no hall do elevador.

– Será que tem mais criaturas no hall? – perguntou Rodrigo.
– Só temos um jeito de descobrir.

Foi então que eu ouvi um barulho vindo de dentro do elevador.

– Merda! Ele ainda está vivo! – gritou Rodrigo se referindo a cabeça da criatura que havia caído dentro do elevador.

Entramos em desespero naquela escuridão. Não sabíamos onde estava a cabeça. Então eu senti algo batendo no meu pé, e sem saber o que era, comecei a dar pisadas violentas. Na terceira pisada eu senti meu pé se afundando no crânio daquela pobre criatura. Então o barulho cessou.

– Maldito! – gritei. – Vamos sair daqui.

Rapidamente nós abrimos outra vez a porta do elevador.

– Vamos ficar quietos. Precisamos escutar alguma coisa. – eu disse.

Por cerca de dois minutos nós ficamos no mais absoluto silencio. Podíamos ouvir a respiração um do outro. Os barulhos vinham de todo o prédio e de fora dele. Mas ali no hall parecia que não havia mais ninguém. Vivo ou morto. Ou meio termo.

– Me ajude. – eu disse já tentando subir no hall novamente.

Assim que alcancei o chão do hall, peguei o celular e liguei novamente. Apoiei as duas mãos e subi, saindo do elevador. Rapidamente peguei o celular e iluminei a minha volta. Nada. Das quatro portas dos apartamentos uma estava aberta. Olhei bem para aquela porta. Eu sabia quem morava ali. Mas não havia mais nada. Deixei o celular no chão e ajudei Rodrigo a subir. Fiz sinal para que mantivéssemos o silencio. Apontei a porta corta-fogo, que nos conduziria até meu apartamento através das escadas.

Ao abrir a porta nós vimos à placa que confirmava que estávamos no nono andar. Entramos na área das escadas e tentamos ouvir algo, alguma coisa. Nada. Não tinha ninguém ali. A luz do celular misturada à luz da lua que entrava pela janela deixava o ambiente totalmente horrível. Descemos o primeiro lance de escadas, com cerca de oito ou dez degraus. Descemos o segundo lance de escadas. Menos um andar. Agora estávamos no oitavo. Foi então que ouvimos os barulhos. Eram barulhos de passos. Nas escadas. Alguém estava subindo as escadas abaixo de nós, ou descendo, acima de nós. Não poderíamos perder tempo ali. Rapidamente descemos outros lances de escadas, e já estávamos no sétimo andar quando a energia do prédio voltou. O som do elevador ganhando vida foi como um tiro de canhão no silencio absoluto. Tomamos um susto, mas continuamos a descer. Assim que a porta corta-fogo do sexto andar nos foi revelada, suspiramos de alivio e apertamos o passo, dessa vez olhando até para nossas sombras.

Quando nos aproximamos da porta nós ouvimos, nas escadas que desciam para o quinto andar, o som dos passos num volume maior. Eu tive a imbecilidade de ir verificar o que estava acontecendo. Foi quando eu vi cerca de cinco ou seis criaturas subindo as escadas rapidamente. Deveriam estar no quartou ou no quinto andar, pouco abaixo de nós. Meu coração disparou e eu dei sinal para sairmos dali urgente. Rapidamente entramos no hall e corremos para dentro do meu apartamento. Rodrigo correu e foi arrumando sua mochila.

– O que está fazendo? – perguntei.
– Arrumando minhas coisas pra sair daqui.
– E como você pensa em fazer isso?
– Não sei. Só sei que chegou a hora de partir. Não aguento mais. Preciso encontrar minha mãe.
– Não faça nenhuma loucura Rodrigo. – disse eu me aproximando e segurando no braço do dele.

Rodrigo me olhou com cara de poucos amigos.

– Só me dê mais uma chance. A situação está ao nosso favor. – comentei.
– Como a situação estaria ao nosso favor? – perguntou Rodrigo ainda arrumando suas coisas.
– Pedro e Francisco.
– O que tem esses dois?
– Pedro é o cara que encontramos morto lá no terraço.
– E?
– E ele pode ter algumas coisas que podem nos ajudar a sairmos daqui tranquilamente.
– E que coisas seriam?
– Vamos comigo até o apartamento dele que eu te mostro.

Rodrigo parou de arrumar suas coisas. Creio que no fundo ele sabia que sair desesperadamente dali seria um suicídio. Ele então aceitou me acompanhar.

Pedro era um grande amigo. Porem, eu não fazia ideia de que ele estava no apartamento. Com certeza eu teria ido visita-lo. Achei que ele estava viajando a trabalho e tivesse ficado preso onde estava quando tudo foi para o barro. Pedro tinha uma profissão que poucos ali do prédio sabiam que ele tinha. Policial Civil. O cara era totalmente louco pela profissão. Só falava disso. Quando jovem havia vivido cerca de doze anos no exército militar. O cara era faca na caveira completamente. Viciado em filmes de guerra. Uma figura. Ele também tinha algumas coisas em seu apartamento que creio que ninguém sabia que ele tinha. Só os amigos mais chegados. E eram essas coisas que eu queria mostrar pra Rodrigo.

Pedro morava no nono andar do prédio. E lá fomos nós novamente pra dentro do elevador. Assim que chegamos, vimos no hall o que não havíamos visto com a luz apagada. No chão havia um corpo de um rapaz sem o braço esquerdo e sem a cabeça. Havia sido ele que tinha nos atacado no elevador. Usava um short verde de praia e uma camisa regata branca. Faltava metade da panturrilha esquerda.

– Ali. – apontei mostrando a única porta aberta.
– Será que tem alguém dentro?
– Tomara que não.

Lentamente nos aproximamos do apartamento. Eu havia pegado no meu apartamento uma faca de cozinha. Rodrigo foi até o apartamento do senhor Francisco e pegou o mesmo pedaço de madeira que ele havia usado para matar o velho. Com os ouvidos totalmente atentos, tentamos ouvir algum barulho vindo de dentro do apartamento. Nada. Entramos.

– Deixamos a porta aberta ou fechada? – perguntou Rodrigo.
– Acho melhor deixar fechada.

Assim entramos no apartamento. O imóvel estava totalmente arrumado. Fora algumas louças sujas na pia, nada mais. Uma rolha de garrafa de vinho na mesa me fez entender a situação. Pedro estava acompanhado. Mulherengo ao extremo. Com certeza havia bebido umas e outras e resolveu fazer uma festinha particular lá no terraço. O que explica a moça que também estava lá. Foram pegos de surpresa pelas outras duas criaturas. Pobre Pedro.

Para o nosso alivio o apartamento estava vazio. Rapidamente entrei no quarto de Pedro e fui fuçando suas gavetas.

– Pode me explicar o que está procurando? Chaves de carro?
– Melhor. – disse eu tentando sorrir ao encontrar um dos brinquedinhos preferidos de Pedro.

Rodrigo saltou ao ver o objeto que eu segurava em minhas mãos.

Uma pistola Glock 9mm preta.

– Meu Deus! – disse Rodrigo impressionado.
– E não é só isso. – disse eu deixando a pistola com Rodrigo e mexendo novamente nas coisas. – Aqui. Encontrei. – disse eu mostrando um revolver calibre 38 cromado.
– E as munições?
– Aqui! – eu apontei mostrando uma caixa de sapato ao lado da gaveta de roupas.

Dentro da caixa havia dois carregadores completos de munição (bala só na padaria, como dizia meu irmão militar) e mais dois tambores cheios para o 38.

– Fantástico! – exclamou Rodrigo. – Você sabe usar?
– Sei. Fui num estande de tiros com Pedro e meu irmão certa vez. Usamos pistolas. O 38 eu vou ter que dar uma olhada na internet sobre como funciona. Não tem segredo. Lá no apartamento eu te mostro. Agora vamos dar continuidade ao nosso plano. Vamos para o apartamento do senhor Francisco.

Nosso retorno foi tranquilo. As únicas coisas que ouvíamos eras as criaturas de fora e as que estavam vagando pelas escadas. Entramos no apartamento do senhor Francisco e eu rapidamente encontrei atrás da porta o que eu estava procurando.

– Chaves de carro? – perguntou Rodrigo.
– Não é qualquer carro. É uma S10 cabine dupla. Um monstro na estrada. Pode nos levar onde quisermos e carregar muitas coisas para nos mantermos até nosso destino.
– Então temos o nosso plano?
– Temos. – respondi.

Voltamos para o meu apartamento e começamos a organizar as coisas de uma vez por todas. Estávamos nos preparando para partir.

Estava chegando a hora de sair dali...

***

Revezamos no descanso. Porem, nenhum dos dois conseguia dormir realmente. Mas conseguimos descansar um pouco.

O plano era louco e imprudente, mas precisava ser executado de qualquer maneira. O carro do senhor Francisco estava no subsolo e não sabíamos como estava a situação lá. De uma coisa eu tinha certeza: O portão da garagem estava fechado. Era um portão automático com fechamento programado para trinta segundos depois de aberto por completo. Se ainda havia energia elétrica, significava que o portão ainda estava funcionando.

Levaríamos todas as nossas coisas para o carro e partiríamos para nossos três destinos.

Destino um: Buscar a mãe do Rodrigo, pois ele morava mais perto.
Destino dois: Buscar minha namorada que morava na cidade vizinha. Quinze a vinte minutos de carro.
Destino três: Irmos até a possível zona segura, o quartel militar. Lá eu pretendia encontrar meu irmão.

Combustível não será o problema. Lembro-me de uma conversa com o senhor Francisco dias antes dessa merda toda acontecer. Ele estava pretendendo levar a senhora Fátima para um hospital caso sua gripe piorasse.

– O carro está lá embaixo. Combustível até o talo. É só ela pedir. – disse o velho em relação ao fato de que a senhora Fátima não queria ir para o hospital.

Há cerca de duas horas ouvimos uma explosão. Pareceu ser bem distante. Talvez uma casa ou um posto de gasolina. Algo do tipo. De onde estamos não dá pra ver nada, nenhuma fumaça nos céus. Não nos arriscamos demais e só vasculhamos os três apartamentos do mesmo andar que o meu. Não encontramos nenhuma criatura. Pegamos coisas necessárias para uma viagem tranquila. Mochilas para caber tudo, várias garrafinhas de água, dois galões cheios e lacrados de água, comida enlatada (sério que alguém ainda compra isso?) com bastante conservante, também o que restou das rações militares que meu irmão me deu (parece que foi há quatrocentos anos), roupas limpas, kits de primeiros socorros, quatro lanternas com umas duas dúzias de pilhas e as armas. Acreditávamos que tudo isso seria o suficiente até chegar ao quartel.

***

Já estamos nos preparando. Travamos a porta do elevador e estamos colocando as coisas dentro dele. Decidi levar o notebook e continuar a escrever. Me sinto bem quando estou aqui. Vou aproveitar enquanto ainda existe internet.

Por falar em internet. Hoje vasculhei inúmeros sites e redes sociais. Nada. Zero. Senti um vazio no coração. E se formos os últimos da face da terra? Meu Deus. Prefiro nem pensar.

Rodrigo acabou de dizer que tudo está pronto. É hora de ir. Espero voltar aqui e relatar tudo que passamos e dizer que estamos bem. Vou lá. Boa sorte para nós. Vamos com a cara e a coragem. Tudo vai dar certo. Eu creio. Se você está lendo esse blog e tudo termina aqui, é porque falhamos e tudo deu errado. Tentamos lutar, tentamos sobreviver. Espero que você tenha tido mais sorte do que a gente.

Chegou a hora...

Postado 03/08/2012 ás 08h30. Taubaté-SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário