Estou na casa da minha namorada. Não tenho boas notícias. Mas
também não perdi as esperanças. Não tenho outra opção a não ser esperar a
poeira abaixar para sair daqui. Não tenho sono nenhum. Vou escrever um pouco.
Quando você acha que tudo foi para o saco, fique tranquilo, pois
tudo pode piorar.
Estou sozinho. Para ajudar, o numero de criaturas no portão
aumentou.
Enfim... Ainda no condomínio, assim que entrei no carro, o
liguei e sai. Não havia nenhuma criatura no trajeto de saída do condomínio, a
não ser que estivessem dentro das casas. Ao passar pela portaria vi uma cena
horrível. Um homem, ou o que restava dele. Do estomago pra baixo não restava
mais nada dele. Isso me fez lembrar a criatura que encontrei na casa vizinha a
do Rodrigo. Um homem com seus trinta e poucos anos, vestindo uma camisa preta e
uma calça cinza toda rasgada e suja de sangue. Seu rosto estava todo
ensanguentado e deformado, resultado das pancadas que dei. No braço estava a
mordida. Uma ferida horrível e enorme. Seus olhos eram brancos e profundos.
Suas mãos estavam sujas de sangue, talvez já tivesse matado alguém. Lembrei-me
do berço. Merda.
Segui com o carro em direção à rua. Não vi ninguém nesse
trajeto, a não ser um gol abandonado. Parei com o carro na esquina e observei.
À direita eu vi alguns deles, caminhando para algum lugar. A esquerda estava
livre. Infelizmente meu caminho era para a direita. Precisava encontrar outro
trajeto, que felizmente já havia sido traçado como plano B. Segui pela esquerda
e observei algumas casas com portões abertos e sangue por toda a parte.
Realmente as pessoas foram surpreendidas na calada da noite. Não tiveram o que
fazer a não ser correr e sobreviver. Muitas pelo jeito não sobreviveram. Logo
em seguida saí numa estrada que ligava muitos bairros. A cena era desoladora.
Carros abandonados por toda a parte. Batidos, capotados. E o pior de tudo, com
gente morta dentro. No meio da estrada se via algumas criaturas vagando.
Desviei de alguns carros e segui a estrada pela direita. A primeira parte do
meu plano? Minha namorada com certeza. Eu precisava ter certeza do que havia
acontecido com ela. Ela mora a cerca de vinte minutos de casa, uns quatro
quilômetros, numa cidade vizinha a Taubaté, chamada Tremembé. Encontrei muitas
criaturas durante o trajeto, mas que eram fáceis de evitar. As cenas se
repetiam em quase todo o caminho. Carros e muitos carros. As pessoas com
certeza tentaram fugir, mas o alvoroço foi o fim delas. As criaturas por todos
os lados devem ter causados acidentes no transito. Vi carros de policia também.
Com certeza receberam ligações e foram averiguar, sendo surpreendidos pelos
zumbis. Pensei inúmeras vezes parar e pegar as armas dos policiais, mas era
totalmente arriscado.
Agora surgiu outro mistério. Taubaté é uma cidade grande, com mais
de duzentos e setenta mil habitantes. Quantas dessas pessoas viraram zumbis?
Isso seria o inferno total. No caminho que fiz encontrei dezenas dessas
criaturas, mas nem chegam aos pés do total de gente que vivia nessa cidade.
Será que ainda serei surpreendido por milhares dessas criaturas num local só?
Espero que não.
Continuei pela estrada até entrar em Tremembé. As cenas de terror
se repetiam por toda a parte. Era difícil ficar olhando. Jurei ouvir sons que
seriam tiros, mas não podia me dar ao luxo de ir averiguar. Foi então que me
aproximei da rua da minha namorada. A visão congelou meu coração. A rua parecia
ser a pior que eu vi em todo o trajeto até ali. Dezenas de carros em fila e
batidos, capotados e alguns pegando fogo. E pra ajudar, dezenas de criaturas
vagando por entre os carros. Algumas comiam o que parecia ser um corpo. Terror
puro. Eram criaturas horríveis com amputações graves. Muitas sem braço, perna,
com a barriga aberta, sem metade do rosto. Ao longe eu avistei a casa da minha
namorada. O portão estava fechado e tudo parecia estar “tranquilo” por ali. Foi
então que tive uma ideia. Comecei a buzinar na esquina. Iria atrair eles para
mim e dar a volta no quarteirão.
Assim que percebi que os zumbis estavam caminhando até minha
direção, dei a volta com o carro e sai para o outro lado do quarteirão. Não
tinha como entrar de carro na rua, então minha ideia era mais perigosa ainda.
Eu não podia partir sem saber o que havia acontecido. Precisava entrar naquela casa
e ver com meus próprios olhos. Dei a volta no quarteirão e de longe vi que as
criaturas estavam seguindo o carro, deixando a rua. Algumas criaturas
insistiram em ficar, mas seriam fáceis de contornar. O perigo seria todas
juntas.
Peguei o pedaço de ferro que tinha no carro e a arma. A outra arma
eu havia deixado com Amanda e Rodrigo. Esperava não ter que usar nenhuma das
duas opções. Percebi que outras criaturas se aproximavam do carro, então sai
rapidamente e fechei a porta.
No caminho vi as cenas mais horríveis da minha vida. O cheiro de
cadáveres já em fase avançada de decomposição era nauseabundo. Tive que correr
com o nariz tampado por diversas vezes. Eram mortos de todos os tipos. Homens,
mulheres e crianças. Crianças, pelo amor de Deus. Esquivei-me de três ou quatro
criaturas que passaram a me seguir de longe. Incrível como se movem rápido
quando percebem um “vivo” por perto. Cheguei ao portão da casa de minha
namorada e vi o carro estacionado na garagem. Meu coração quase parou. Estava
aberto e vazio. Tentei abrir o portão, mas estava trancado. Merda. Dois zumbis
estavam a menos de dez metros de mim. Dei uma afastada e me empoleirei no muro.
Com esforço subi e saltei para dentro da casa dela.
Tudo estava totalmente quieto. As criaturas se aproximaram e
começaram a forçar o portão. Ele tem as barras de ferro bem grossas, então não
me preocupei em relação a isso. Porem o som que eles emitiam era aterrorizante.
Aquilo iria me deixar louco. A casa da minha namorada tem dois corredores
laterais. Pelo lado esquerdo tem a porta principal da casa e a porta do
corredor. Pelo lado direito é livre. Os dois corredores saem no enorme quintal
dos fundos. Chequei as duas portas do lado esquerdo e estavam trancadas. Isso
me deu esperanças, sinal de que eles poderiam estar seguros. O carro estava
totalmente vazio. A chave estava no contato, mas não tinha nada, como por
exemplo, coisas preparadas para uma fuga. Segui pelo corredor direito e fiquei
atento a qualquer coisa. Fora o som das criaturas no portão, eu não ouvia mais
nada. Assim que virei o corredor e sai no quintal, meu coração quase saltou
pela boca. Atrás da maquina de lavar roupas da minha sogra havia alguém, um
corpo jogado. Eu só podia ver as pernas. Eram de um homem. Não tive escolha,
preparei a arma. Depois do episodio da casa vizinha no condomínio eu havia
destravado a bendita arma. Estava pronto para atirar. Mas e se fosse meu sogro,
ou alguém conhecido? Eu seria capaz? Depois de pensar nisso, minhas mãos
começaram a tremer. Lembrei-me das palavras de Rodrigo. Balancei a cabeça
negativamente tentando esquecer aquelas palavras.
Aproximei-me e vi o corpo. Eu o conhecia. Era o vizinho do meu
sogro. Carlos eu acho. Estava totalmente morto. Enfiado na cabeça dele havia um
espeto de churrasco. Meu sogro é um churrasqueiro nato, e eu havia dado aquele
jogo de espetos para ele no natal. Vejo que lhe foi útil. Definitivamente o
vizinho havia se tornado um zumbi e tentado atacar alguém aqui dentro. Isso me
fez gelar. Tomara que não tenha conseguido. A porta dos fundos estava aberta, o
que me fez tremer ainda mais. Chamei pelo nome de minha namorada, que por sinal
é Mirian. Não houve resposta. Entrei lentamente na casa olhando para todos os
cantos. Assim que passei pela cozinha vi o que por algum instante me acalmou.
Tudo estava revirado e vazio. Eles provavelmente se prepararam e fugiram. Não
havia alimentos na casa. Entrei no quarto de minha namorada e também estava
revirado. Roupas, entre outras coisas. Tudo. Fiquei feliz por saber que eles
não haviam virados zumbis, mas preocupado.
Onde eles poderiam estar?
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