16° Registro - Planos frustrados - Parte 3 de 3


Mais uma vez me lembrei de minha namorada. A dor tomou conta do meu coração. Não queria imaginar que ela estaria morta, e muito menos imaginar que ela poderia ser uma dessas criaturas. Com certeza eu precisaria ir até a casa dela. Não iria conseguir viver imaginando como ela estaria. Eu teria que ver com meus próprios olhos. Foi então que percebi algo. Silencio. Sim, silencio. Um silencio matador, aterrorizante. Eu não conseguia ouvir nada. Os gemidos e os passos daquelas criaturas. Tudo estava estranhamente quieto. Olhei pela janela e não vi ninguém na rua. Nada. Estava deserta. Apesar de que tudo estava muito escuro. Ao longe, na rua que subia para a área de lazer do condomínio eu percebi que a concentração das criaturas ainda era lá.

Era hora de agir. Decidi que preciso ajudar aquela moça. Novamente pensei em como fazer isso. Não seria tão difícil sem aquelas criaturas por perto. Precisava somente entrar na cada dela e tirá-la de lá. Mas tinha que ser rápido. Não sabia até quando iria durar essa “paz” nas ruas. Peguei uma vassoura. Não, não vou fazer uma faxina. Percebi que eles são atraídos pelo som e talvez pelo cheiro. Os dois tiros que Rodrigo disparou chamou a atenção de muitos. Mas algo na área de lazer chamou ainda mais.

Assim que abri a porta da casa, por alguns segundos pensei em voltar. Mas respirei fundo e fui. Rapidamente peguei uma pedrinha na rua e lancei na janela em que a menina havia aparecido quando eu estava olhando a rua da janela. Nada. Eu ouvi um barulho e me virei, mas não percebi nada. Só minha sombra. Eu estava vendo a hora que iria quebrar a vassoura na cabeça da minha sombra. Enquanto aguardava a moça aparecer na janela, eu me lembrei de algo, a arma do homem morto. Me aproximei do cadáver, estava fedendo muito. Tive ânsia de vomito. O corpo estava dilacerado. Não tinha braço e suas tripas estavam espalhadas pelo chão. O rosto não existia. Ao lado do corpo estava a arma. Uma pistola. Era prateada e grande. Fiquei pensando o que aquele homem fazia da vida para ter uma arma daquela em casa. Não era arma típica da policia e muito menos do exército. Foi quando vi a moça surgir na janela. Ela ficou espantada. Acho que por alguns segundos ela achou que eu fosse um zumbi, até que o inteligente aqui teve a idiotice de gritar meu nome.

– Meu nome é Gabriel. Vim tirar você dai. – gritei.

De repente alguém surgiu caminhando do corredor da casa vizinha. Eu não esperei para saber quem era. Corri para a porta da casa da moça. A criatura foi se aproximando lentamente. Ela não andava tão rápida assim. Parecia estar bêbada e com sono. Mas mesmo assim eu não tinha saída. Ou entrava ou teria que matar o zumbi. Segurei forte o cabo da vassoura nas mãos e dei uma paulada no zumbi sem pensar. Não foi forte o suficiente, mas a criatura cambaleou e caiu para trás. A porta se abriu atrás de mim e entrei. Imediatamente coloquei coisas segurando a porta. Antes tive tempo de distinguir mais duas criaturas se aproximando da varanda.

Me aproximei da moça e me apresentei novamente. Rapidamente expliquei minha situação e a convidei para ir comigo até a casa do Rodrigo. Felizmente ela o conhecia. Seu nome é Amanda e ela também tem dezessete anos.

Amanda me contou rapidamente sobre o plano de seu pai que acabou tragicamente.

Assim como todo mundo, o senhor Alberto (nome do pai dela) acordou no meio da noite com toda aquela confusão. Decidiu sabiamente esperar a poeira baixar. Ele também percebeu que não seria uma boa ideia sair no meio daquelas pessoas estranhas que estavam atacando as outras na rua. Foi então que ele começou a bolar seu plano. Ele arrumou todas as coisas necessárias para uma fuga e se preparou. Foi quando o plano entrou em ação. Rapidamente ele e sua filha colocaram as coisas no carro e se preparam para partir. A frente de sua casa estava vazia, o que fez tudo ficar mais fácil. Assim que ele arrancou com o carro, freou com tudo e parou. Amanda, que estava no banco de trás segurando algumas caixas, não entendeu. Seu pai parecia ter esquecido alguma coisa. Ele saiu do carro e foi em direção a casa, quando um zumbi se aproximou. Então aconteceu toda aquela tragédia.

Perguntei se eles ouviram os tiros que vieram da casa de Rodrigo. Ela respondeu que ouviram, mas que infelizmente não sabiam da onde vinha o barulho. O estranho era que eles não perceberam nossa chegada ao condomínio.

Amanda contou que, quando ainda estava no carro, percebeu a distração de um zumbi e abriu a porta do carro com tudo, fazendo a criatura cair. Então ela correu e se trancou em sua casa. O plano de seu pai era pegar sua ex-esposa, mãe de Amanda, e irem para a base de aviação do exército, aqui em Taubaté. O mesmo plano que o nosso. Realmente parece ser um bom plano. Se existe um local seguro, é lá.

Convenci Amanda a arrumar suas coisas e ir comigo para a casa do Rodrigo. Assim que voltamos pra casa, expliquei TODA a situação e TODO o ocorrido ali dentro. Amanda ficou em choque e se lamentou pela mãe de Rodrigo, que por sinal ela conhecia muito os dois. Contou que os dois já tiveram um caso ano passado e que ficaram três meses juntos. Depois não deu certo. Mas sempre foi muito amiga do Rodrigo. Contou também que quando tudo começou os dois trocaram constantes mensagens de celular, internet e prometeram manter contato, mesmo que fosse das janelas das casas. Foi então que certo dia ela notou o sumiço de Rodrigo. Depois não viu mais o amigo nos dias que se seguiram. Não pôde ir visitar o amigo e a mãe porque seu pai não a deixava sair de casa. Foi então que tudo aconteceu.

Contei meu plano para Amanda, mas também contei da situação de Rodrigo. Dificilmente ele viria comigo, e eu precisava muito ir procurar minha namorada. Nas horas que se seguiram, Rodrigo acordou e ficou lá em cima. Não quis descer e encontrar comigo. Amanda se ofereceu para conversar com ele. Fiquei na sala por um bom tempo sozinho. Amanda estava cuidando de Rodrigo. Ela descia para a cozinha, preparava algo para comer e levava para ele. Certa hora eu perguntei para ela como ele estava.

– Ele não fala nada Gabriel. – disse ela. – Não responde, não agradece e não fala mal. Falei com ele sobre sairmos daqui, mas ele não esboçou reação alguma.
– Entendo. – disse eu. – Você tem que entender que uma hora ou outra eu vou precisar partir Amanda.
– Entendo. – ela falou.
– Você vai ficar ou ir comigo? – perguntei.
– Não sei Gabriel. Ver o Rodrigo nessa situação corta meu coração. Um rapaz tão tranquilo.
– Pense direito. Acho que amanha pela manhã eu vou partir. Ai você me responde. Vou aproveitar que ainda está dia e vou me livrar do corpo do pobre coitado do César.

Amanda subiu para ficar com Rodrigo enquanto eu fui para o quintal dos fundos onde havia deixado o corpo de César. Estava enrolado numa lona que eu havia encontrado num quarto que ficava ao lado da churrasqueira no quintal. Peguei o corpo e o larguei do outro lado da rua. Infelizmente não havia pá ou algo do tipo para cavar um buraco e enterrá-lo. E o corpo já estava começando a feder. Logo em seguida tomei um banho no banheiro social que havia na casa. Preparei algo para comer e fiquei sentado no sofá. Curiosamente dei uma olhada na TV e não encontrei nenhum canal funcionando. Na internet também não havia nada. Imaginei que eu deveria ser o único louco a estar naquela internet naquele momento.

As quedas de energia são constantes agora. Não sei quanto tempo mais vai durar sem ninguém para fazer uma manutenção. Me lembrei do meu sogro. Ele era funcionário de uma empresa de energia aqui da cidade. Minha namorada. Que ela esteja bem. Por favor, Deus. Assim que amanhecer eu vou partir. Estou decido. Com ou sem o Rodrigo.

Preciso encontrar aqueles que eu amo...

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