26° Registro - A Universidade - Parte 3 de 7


As últimas dezesseis horas foram aterrorizantes. Mais uma vez passamos por situações que nos abalaram psicológica e fisicamente. Realmente não podemos nos iludir achando que estamos cem por cento seguros. Isso é totalmente enganoso. Muito enganoso.

Ontem, assim que o dia foi amanhecendo, Mateus, meu irmão e eu nos preparamos para vasculhar o restante do prédio. Infelizmente aquele barulho estranho insistia em permanecer. Não sei se era coisa da minha cabeça, mas por várias vezes eu acreditei ouvir mais de um barulho. Como se fossem em diversos lugares do prédio. Os demais não ouviram nada além do mesmo barulho. Estranho.

Assim que estávamos prontos, partimos. A estratégia seria simples: Portas trancadas permaneceriam trancadas. Porque mexer no que está quieto? Vasculhamos as três primeiras portas. Todas trancadas. A quarta porta nos revelou uma surpresa. Era a diretoria. Aquela nós tínhamos que abrir. E teria que ser na pancada. Para Gustavo era mais fácil, pois ele estava usando um coturno (bota militar). Nos foi revelada uma sala confortável, com uma mesa de madeira enorme, uma cadeira reclinável e giratória muito elegante. Um sofá de quatro lugares da cor marrom muito confortante. Uma estante com fotos e uma com livros, muitos livros. Guardamos alguns na mochila para lermos. Seria bom para passar o tempo. Havia também um banheiro. Ali encontramos algo que alegrou nosso trabalho. Um molho de chaves. Agora poderíamos verificar todas as portas. Então seguimos com o plano.

As portas foram se revelando. Salas e mais salas. Laboratórios dos cursos. E então... Um banheiro. Um banheiro com chuveiro. Um vestiário na verdade. Ao abrirmos o chuveiro percebemos que a água estava totalmente gelada. Incrível como por um segundo achamos que teria água quente. Pobre ilusão. Pronto, já poderíamos tomar um banho. Encontramos outra coisa boa. Como eu havia previsto. Um auditório. Seria um bom lugar para ficarmos.

Aquela altura decidimos por voltar e descansar um pouco. Contamos as novidades para Amanda e Sofia. Depois do meio dia decidimos tomar o tão aguardado banho. Amanda e Sofia foram às primeiras. Depois os homens. Era uma sensação diferente. Um banho depois de muito tempo. Mesmo sendo totalmente gelado. Eu não estava nem ai. Depois disso pensamos em seguir com o plano de olhar as outras salas. Mas depois do banho a preguiça bateu. E esse foi o nosso erro.

Encontramos tantas coisas boas que nos esquecemos de uma coisa. O barulho. Era por volta de oito horas da noite. Estávamos na sala de aula ainda, pois ainda não havíamos ido para o auditório. Foi quando percebemos algo diferente no barulho. Ele havia piorado. Era mais constante e mais forte. Um atrás do outro sem parar.

– Alguém está fazendo isso. – eu disse.

Assim que eu falei isso, ouvimos a batida. Uma batida muito forte. Lembrou-nos do barulho que fazíamos ao chutar uma porta para arrombá-la.

– Tem alguém aqui. Definitivamente tem alguém aqui. – eu disse.
– Deve ser no segundo andar. – Mateus falou. Afinal tínhamos vasculhado todo o primeiro andar.
– Vamos lá agora? – perguntou Gustavo.
– Se forem zumbis e ficarmos aqui, podemos ser surpreendidos. – falei.

Depois de muita relutância, decidimos que deveríamos verificar. Afinal, depois daquele barulho mais forte, não houve mais nenhum barulho.

Então com o coração na boca saímos.

Mal sabíamos o que nos aguardava lá em cima.

***

Quando estamos desesperados, assustados e aterrorizados, é estranho como o tempo não passa.

Assim que abrimos a porta da sala em que estávamos, olhamos para o corredor que se seguia a nossa direita. Estava totalmente escuro. Eu fui o primeiro a apontar a lanterna para ele e sinceramente, estava cagando nas calças. Eu poderia muito bem ser surpreendido por uma criatura a menos de um metro de mim. Isso me deixou muito assustado. Enfim, assim que nós três iluminamos o corredor e vimos que estava vazio, começamos a caminhar. Não era fácil, era nítido que dentro de cada um de nós a vontade era de dar meia volta e ficar na sala. Cada passo era forçado o suficiente para perceber isso. Não queríamos estar ali, não queríamos ter que verificar nada. Mas era preciso ser feito. Merda.

Então chegamos até a escada que levava pra o próximo andar. Parecia que a escuridão lá em cima era maior. Mais uma vez demonstramos que não queríamos subir. Tanto que ficamos cerca de um minuto parados, sem falar ou fazer nada. Isso serviu para ouvirmos um som estranho. Algo que não conseguíamos identificar. Com o coração a mil, decidimos subir. A escada tinha um lance de oito degraus e virava para a direita, onde subia mais oito lances de degraus. Para o nosso alivio, o segundo andar estava vazio. Para a esquerda cinco portas, para a direita mais cinco portas. Ouvimos então novamente aquele barulho estranho. Parecia algo se arrastando ou coisa do tipo. Não vinha dali, vinha do terceiro andar. Paramos na beira da escada que levava para o terceiro andar. Estávamos totalmente borrados de medo. Porem, nós não podíamos recuar. Olhamos um para o outro e subimos. Meu irmão, militar treinado, é claro que foi na frente.

Subimos o primeiro lance de degraus. Foi quando eu ouvi algo.

– Quietos. – disse para eles.
– O que foi? – perguntou Gustavo sem entender.

Subi minha lanterna lentamente para a escada que levava pra o terceiro andar. Foi então que a merda toda desandou.

O que vimos primeiro foram dois pés descalços, parados na beira da escada acima. Ao subir a lanterna vi uma mulher em pé, bem acima de nós. Ela aparentava ter seus quarenta anos. Vestia um vestido rosa bem velho e com flores brancas. Estava coberto de sangue seco. Seu corpo era horrível. Tinha marcas de mordidas por toda a parte do corpo. Pedaços faltando em toda a sua barriga. Uma criatura.

Assim que a lanterna bateu em seu rosto, ela soltou um gemido horrível e avançou.

Escrito 15/08/2012 ás 12h42. Taubaté-SP

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