- Gabriel, está me ouvindo? - chamou Mateus no walkie-talkie.
- Estou te ouvindo Mateus, pode falar. - respondi, ainda sem fôlego.
- Estou te vendo com o binóculo. O que esta fazendo no terraço do
prédio?
- É uma longa história cara. - respondi, tentando não parecer que
estávamos totalmente desesperados ali. - Só digo uma coisa: Estamos
encurralados. O prédio está tomado de zumbis e estamos presos aqui em cima.
- Merda! - gritou Mateus no rádio.
- Mateus, precisamos pensar em como sair daqui. Qualquer coisa eu te
chamo. - eu disse.
- Também vou pensar em algo. - falou Mateus.
- Nem pense em vir nos resgatar. Não seja estúpido. - falei.
- Você sabe que se eu tivesse com o braço normal, eu iria.
- Se você tivesse com o braço normal, estaria aqui conosco. Até mais Mateus.
- falei, desligando o radio.
Assim que desliguei o radio dei mais uma olhada ao nosso redor.
Realmente não havia nenhuma forma de sair daquele terraço. Que merda. E também
seria questão de tempo para os zumbis estarem batendo em nossa porta. Meu irmão
sentou-se ao lado de uma caixa d’água exausto. Eu o acompanhei e também sentei.
- Não vamos desistir mano. - eu disse, tentando animá-lo.
- Eu sei que não vamos. Mas estou com medo. - falou meu irmão.
- Eu também. Não somos super-heróis. Essa merda toda aqui está acabando
com nosso psicológico, com nosso físico. Medo é uma coisa mais do que normal. -
eu disse.
- Olha pra gente mano. - disse meu irmão. - Nós íamos à academia todo o
dia. Tínhamos um corpo legal. Agora olha pra gente. Magrelos, secos.
- Cruel. Mas infelizmente esse é o nosso novo mundo. Não teremos uma
refeição farta novamente. Temos que tentar sobreviver com o que temos. -
comentei.
- Eu prefiro morrer de fome a virar uma dessas criaturas. - falou meu
irmão.
- Ninguém vai morrer aqui. - eu disse colocando a mão em seu ombro.
- Não me deixe virar uma dessas criaturas Gabriel. Por favor, não deixe
isso acontecer. - falou meu irmão começando a chorar.
- Eu não vou deixar. Te prometo. - falei.
Aquilo despedaçou o meu já quebrado coração. Junto com meu irmão também
comecei a chorar. Nunca que eu deixaria isso acontecer com ele. Nunca. Naquele
momento não pensamos em mais nada. Ficamos ali chorando abraçados.
Descarregamos toda aquela tensão que nos cercava. Porem um barulho nos
despertou daquele momento de comoção. Uma batida. As criaturas já estavam na
ultima porta que nos separava delas. Ficamos sem reação. Não tínhamos para onde
correr. Me lembrei de uma cena quando eu tinha meus dezessete anos. Um grupo de
garotos correu atrás de mim para me baterem. Tudo por causa de uma garota da
escola. Eles me cercaram num beco sem saída e naquele momento eu percebi que
iria apanhar muito. Porem a policia surgiu do nada e mandou o grupo dispersar.
Voltei para minha casa feliz e alegre por ter sido salvo pelos policiais. Porem
ali não haveria policiais. Se houvesse, eles estariam no meio daquela massa de
zumbis e estariam prontos para nos atacar. Não havia policia, nem exército e
nem os escoteiros para nos salvar.
Segurei com força a mão do meu irmão. Estávamos a uma boa distancia da
porta quando a vimos abrir sendo forçada contra a parede. O primeiro zumbi
apareceu e olhou para o horizonte. Creio que ele não fazia nem ideia de onde
estava. Mais três criaturas ficaram ao lado dele. De repente mais cinco, e
mais, e mais. Deveria ter umas vinte ou trinta criaturas ali. Eles caminhavam
sem rumo, tentando nos achar. Não tínhamos para onde correr e nem se esconder.
Seriamos alvos fáceis assim que eles nos vissem, ou sentissem, sei lá.
Naquele momento meu irmão pegou em minha mão e a levantou junto com a
arma que eu estava segurando. Seus olhos ainda estavam lagrimejando. Olhei para
ele e entendi o que ele queria. Minhas mãos tremiam enquanto eu chorava ainda
mais. Eu tinha que cumprir o que prometi para meu irmão. Ele não iria se tornar
uma dessas criaturas. Mas para isso não acontecer, só restava uma solução.
Eu teria que matar meu próprio irmão...
Escrito 20/08/2012 ás 10h40.
Taubaté-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário