29° Registro - A Universidade - Parte 6 de 7


Fizemos besteira e comprometemos nosso refugio. Agora pode ser que tenhamos que sair urgentemente daqui. Temos alguns planos caso seja necessário sair às pressas. Pode ser um tiro no escuro, mas precisamos tentar.

Creio que tudo começou quando nós decidimos sair do prédio e procurar a cantina da faculdade. Precisávamos ir até lá. Nossos estoques de alimentos já estavam se esgotando. Segundo Bruna, a cantina ficava próxima ao prédio que dava para ver daqui. Ele estava a uns quatrocentos metros mais ou menos. O plano seria simples: Meu irmão e eu iriamos até lá e pegaríamos o que conseguíssemos carregar. Caso fosse preciso voltar, voltaríamos.

Não foi difícil. Saltamos o portão e seguimos para o local da cantina. Era uma estrada de terra, cercada por algumas arvores. Ao nos aproximarmos do prédio vimos à cantina com a aquela porta corrediça de aço aberta. Encontramos muitos salgadinhos e bolachas, além de algumas garrafinhas de água, totalmente quentes por causa da falta de energia. Pegamos também alguns doces e voltamos. Assim que estávamos saindo, meu irmão viu algo e parou.

– Gustavo? Algum problema? – perguntei

Ele ficou olhando para um dos prédios. Parecia ver algo que eu não conseguia ver.

– Ali, do lado do segundo prédio. – disse ele, apontando algo.

Eu fiquei olhando e vi. Eu não acreditava no que estava vendo e sai correndo. Era mesmo o que eu estava pensando. Um caminhão de transporte. Um grande caminhão por sinal. Deveria ser um caminhão que trazia coisas para a universidade. A transportadora se chamava “2 irmãos”. Olhei para Gustavo e sorri por causa da grande coincidência.

– Verificamos se está funcionando? – perguntou meu irmão.
– Agora não. Precisamos levar as coisas. – eu respondi.

Como eu iria me arrepender depois por não ter testado aquele caminhão naquele momento.

***

Assim que chegamos ao portão do nosso prédio. Nosso prédio. Engraçado falar isso. Parece que tomamos posse do território. Que grande ilusão. Enfim... Assim que chegamos ao portão, meu irmão saltou para o outro lado enquanto eu fui passando as coisas para ele. Assim que eu me empoleirei no portão e fui saltar, nós o vimos. Ele foi saindo do meio da mata, vagando sem destino. Carlos. Ele não percebeu nossa presença. Corremos para um canto para não sermos vistos e ficamos observando o pobre homem transformado em zumbi. Ele foi caminhando, caminhando até bater na cerca do prédio. Aquilo foi uma surpresa para ele. Ele começou a balançar a cerca e a gemer.

Então entramos sem fazer o mínimo de barulho. Ao chegarmos ao auditório percebemos que os outros também já tinham visto Carlos pela janela. Sofia já chorava mais ao canto. Ficamos conversando sobre o que fazer. Então chegamos a uma conclusão. Precisávamos dar um jeito na criatura.

Porem, nós não fazíamos ideia de que aquilo traria uma enorme consequência.

***

Assim que decidimos o que fazer com Carlos, que estava na grade do prédio gemendo que nem louco, nos preparamos para executar o plano. Era bem simples e não traria nenhum perigo para nós. Deus do céu, como nós estávamos enganados.

O plano era o seguinte: Ir até lá e infelizmente matar o pobre homem. Sofia chorou muito, mas entendeu que aquilo seria necessário. Não poderíamos deixa-lo ali, gemendo e balançando a grade. Mesmo ele não podendo fazer nada para entrar, teríamos que fazer algo. Mateus, meu irmão e eu fomos até o pátio onde estava Carlos. Assim que ele nos viu enlouqueceu. Começou a agitar ainda mais forte a grade. Sua aparência era horrível. O local em que ele havia sido mordido estava todo preto em volta, podre. Sua pele estava começando a enrugar, a apodrecer. A boca estava cheia de sangue e toda ressecada. Talvez ele tenha encontrado alguma refeição no caminho. Que triste. Seus olhos continuavam cinzas e vermelhos de sangue enquanto as veias saltavam pelo corpo inteiro. Sua cor era totalmente pálida. Realmente um morto. O único fato fora do normal era que ainda estava vivo. Ainda. Mas o fato mais curioso era: como ele tinha saído da viatura militar? Quando o deixamos lá, ele não conseguia nem se mexer. Agora estava na nossa frente totalmente livre.

Meu irmão se voluntariou para atirar em Carlos. Eu não discuti tal decisão. Afinal não sei se teria coragem de fazer isso. Mesmo tendo passado pouco mais de dez dias com Carlos.

Então ele atirou. O som do tirou soou como um tiro de bazuca em meio ao silencio absoluto que ali fazia. Isso me incomodou e muito. Senti um peso no coração, minhas mãos começaram a tremer. Lembrei-me da noite em que abatemos aquelas criaturas no corredor da universidade. Os inúmeros tiros, os barulhos causados por eles. O silencio era total, fazendo com que os sons dos tiros se propagassem ainda mais. Com certeza ouviram os tiros. E com certeza ouviram esse também. E naquele momento aquela mesmo sensação que tive no quartel, de que em algum momento não estaríamos mais sozinhos, voltou.

Eu estava certo. Poucas horas depois, eles apareceram. Dezenas, centenas deles.

Estávamos cercados.

Escrito 16/08/2012 ás 08h10. Taubaté-SP

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