Aos poucos estamos sendo afetados pelos males que tudo isso está nos
causando. Os efeitos de se viver constantemente com medo e pânico estão
aparecendo aos poucos. Porcaria.
Eu não via esperança em lugar algum. De um lado um caminhão, nossa
esperança de fugir daquele inferno. Porem totalmente trancado. Do outro lado
cerca de quinze a vinte zumbis com sede em nos matar. Aquilo seria o fim. Mas
pra nossa sorte eu fui atacado por um zumbi. Sim, sorte. Como posso escrever
isso? Acho que estou ficando louco com o passar do tempo. Cada um acha o que
quiser, mas eu creio que foi sorte.
Eu estava junto ao meu irmão atirando nos zumbis que se aproximavam. Foi
quando um zumbi apareceu do nada por detrás de mim. Era um rapaz magrelo e
loiro e vestia um macacão azul desbotado. Seu horrível gemido o impediu de me
pegar de surpresa. Assim que me virei, sua boca já estava aberta e o bote já
havia sido dado. Me esquivei por pouco, fazendo o maldito morder o ar. Segurei
seu pescoço e dei uma joelhada em sua barriga, em seguida o joguei no chão.
Atirei e matei aquele desgraçado. Eu já estava me virando para atirar nos
outros zumbis quando percebi algo. Olhei para o zumbi morto, ao lado do outro
zumbi que havia mordido meu tênis. Os dois tinham algo em comum. O macacão azul
desbotado. Olhei no peito dele e vi o emblema. O mesmo emblema que estava
estampando na lateral daquele caminhão. Os desgraçados eram os donos do
caminhão. Corri rapidamente e comecei a fuçar o bolso dos dois. Então
encontrei. A chave do caminhão. Meu coração disparou e eu abri um leve sorriso.
Mas a felicidade tinha que esperar um pouco. Aquele momento não era hora de
sorrir e comemorar.
Gritei para meu irmão e entramos rapidamente no caminhão. Ao colocar a
chave no contato meu coração gelou. E se o maldito caminhão não funcionasse?
Meu irmão e eu estaríamos presos ali para sempre. Girei a chave com os olhos
fechados e dizendo um, "por favor", bem baixo. O som foi como uma linda musica
entrando em meus ouvidos. O som do motor funcionando. Engatei a primeira marcha
e naquele momento agradeci meu velho tio por ter me ensinado a dirigir um
caminhão. Meu tio. Espero que onde quer que ele esteja, esteja seguro e não
transformado em uma dessas criaturas.
Avancei com o caminhão em direção ao prédio. Era hora de salvar meus
amigos.
Felizmente
essa foi a parte mais fácil de ser executada. Todos estavam esperando prontos
para partir. Rapidamente jogamos as coisas na traseira do caminhão e partimos.
***
Agora estamos parados num local descampado, próximos a uma grande
árvore. Estamos cercados de montanhas e mato. Não faço nem ideia de onde
estamos. Não sei nem se ainda estamos dentro dos limites de Taubaté. Conseguimos
sair com o caminhão e salvar nossos amigos que estavam nos aguardando nos
fundos da universidade. Partimos sem rumo em direção a uma estrada que passava
por ali.
A parte detrás do caminhão revelou mais coisas ainda. Amontoados no fundo,
ainda na embalagem, havia seis colchões novos em folha. Mais ao canto também
dois galões de vinte litros de diesel. Com eles conseguimos andar por
três dias. A parte ruim da história foi que andamos sem rumo, sem destino. Não
conseguimos encontrar estrada asfaltada e muito menos civilização. Nem de
vivos, nem de mortos. Por diversas vezes encontrávamos a estrada bloqueada por uma ponte quebrada, um deslizamento de terra ou algo do tipo e tínhamos que voltar tudo de novo. Creio que por muitas vezes andamos em círculos e não saímos da mesma região. O combustível está acabando e cremos que poderemos andar
mais ou menos uns dois quilômetros antes de acabar por completo. Eu tive uma
ideia hoje pela manha e vamos tentar executá-la. Vamos subir até o pico da
montanha mais próxima e tentar olhar ao redor. Precisamos nos situar. A
desorientação está acabando com a gente. E ainda temos muitos outros problemas.
Agora eu vou sair com me irmão para irmos até a montanha. Mateus vai ficar cuidando
das mulheres e do pequeno Diego, que desde que o resgatamos naquela sala, não
fala uma palavra. Deve estar sofrendo muito. Que triste...
***
...Acabei de voltar da montanha. Foi cansativo, muito cansativo. Porem
nós conseguimos ver algo além de mato e montanha. Uma torre. Talvez de uma
fábrica ou algo do tipo. Está muito longe. Até pelo binóculo não conseguimos
ver direito, mas Mateus disse que temos que ir até lá, pois podemos encontrar
um novo refúgio ou até uma rodovia. Eu concordo, pois precisamos mesmo. Como eu
havia escrito antes, estamos com muitos problemas. Um deles é a falta de comida
e água. Temos aqui o suficiente para mais uns três dias. E isso economizando ao
máximo. Outra coisa, Sofia amanheceu com febre. Não temos remédio algum. Nem
pra dor de cabeça. Todo esse desespero, essa preocupação com essas criaturas
nos fizeram esquecer coisas simples como febre, gripe, resfriado e outras
coisas comuns que podemos pegar no dia a dia. Bruna e Mateus estão sofrendo
calados com seus machucados. Bruna está com uma torção no tornozelo e Mateus
com o braço quebrado. Não temos antibióticos e nem anti-inflamatórios. Tememos
qualquer problema com um dos dois. Complicado.
Vamos aproveitar o fim da tarde e avançar mais um pouco com o caminhão.
Assim que começar a anoitecer, nós paramos como sempre. Não queremos arriscar
dirigir de noite.
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