27° Registro - A Universidade - Parte 4 de 7


Foram momentos aterrorizantes. Fico imaginando o que teria acontecido se não tivéssemos ido até aquele andar do prédio. Mas infelizmente fomos. Ou felizmente. Depende do ponto de vista.

Assim que aquela criatura deu seu primeiro passo, Gustavo abriu fogo sem pensar. Eu estava muito próximo e me assustei com o incrível barulho que o tiro causou naquele pequeno espaço no meio da escada. Infelizmente Gustavo errou o primeiro tiro. A criatura deu seu segundo passo, e foi quando tudo aconteceu. Não sei se ela sabia que estava próxima a uma escada. Será que essas criaturas reconhecem as coisas ao redor delas? Será que elas sabem quando estão perto de uma porta, ou um carro, ou uma escada? Mais um mistério sobre esses mortos vivos. Só sei que assim que ela deu o passo seguinte, desmoronou. Aquela altura nós já havíamos dado alguns passos para trás. Mateus porem recuou mais do que o esperado e veio para cima de mim, enquanto aquela criatura rolava escada abaixo. Eu não vi que havia me aproximado do primeiro degrau para descer as escadas e também pisei em falso. Antes de cair tive a inteligência de segurar em meu irmão. Erro meu. Ele não esperava por isso e também começou a cair. Nós três rolamos escada abaixo e caímos no segundo andar. Eu bati minha cabeça em alguma coisa e fiquei um pouco atordoado. Mateus deve ter caído de mau jeito, pois gritou e colocou a mão no braço. Mas o pior foi para meu irmão. Ele estava desacordado. Eu tentei acorda-lo, em vão. Olhamos para cima e vimos à criatura tentando se levantar. A cena era horrível. A perna da criatura havia se deslocada em um ângulo um tanto impossível de se descolar. Ela estava indefesa. Não conseguiria nos pegar nunca. Mateus mirou com a lanterna e eu atirei. Foi certeiro. O miolo daquela mulher ficou espalhado naquela escada. A podridão que exalava dela era totalmente escrota. O cheiro veio com tudo para cima de nós. Eu virei de lado e vomitei.

Nos aproximamos de meu irmão e tentamos acorda-lo novamente. Mais uma vez em vão. Na cabeça dele dava para se ver um enorme galo. A pancada havia sido forte. Já pensávamos como levá-lo para nossa sala quando ouvimos novamente. Um gemido. Um longo e desgraçado gemido. Havia mais criaturas naquele terceiro andar. Não sabíamos o que fazer. Ou levávamos meu irmão para a sala ou subiríamos e daríamos um jeito naquelas criaturas. Enquanto isso os gemidos continuavam.  E os barulhos que antes não sabíamos o que era, descobrimos. Eram passos. Passos dessas criaturas. Pés se arrastando pra lá e pra cá. Andando sem destino. A espera de uma presa, uma pessoa viva. E as presas estavam chegando. Nós iriamos até lá.

Deitamos meu irmão embaixo da escada e nos preparamos para subir. Na cintura eu levava a arma de meu irmão. Passamos pela mulher morta e cobrimos o nariz. O cheiro era impressionante. Seu sangue agora escorria pela escada. Já ali apontamos a lanterna para cima e não vimos nada. Quem estava ali, estava mais para o meio do corredor. Subimos lentamente, quase não fazendo barulho. Acho que eu conseguia até ouvir as batidas de nossos corações. Mateus colocou a mão no braço, pois ainda estava doendo. Ao chegarmos ao topo da escada paramos. Agora era a hora. Iluminamos o corredor à esquerda e os vimos. Dois homens caminhando em nossa direção. Um careca magrelo e um gordão moreno. Apontamos a arma para eles, mas de repente fomos surpreendidos por um zumbi a nossa direita. Ele deu um grito e saltou sobre mim. Dei um tiro no vazio e cai com o ser em cima de mim. Sua primeira investida foi contra meu antebraço. Ao lado Mateus abria fogo contra os dois zumbis. Eu tentei me virar, mas era impossível, pois o zumbi soltava todo o seu peso contra mim. Sua segunda investida foi contra meu pescoço. O desgraçado quase conseguiu me morder. Deu até para sentir sua saliva escorrer sobre meu pescoço. Seus braços eram fortes e ele tentava me morder a cada segundo. Eu não sei se ele se cansava, mas eu estava me cansando. Minhas pernas já doíam e meu braço começava a se afrouxar aos poucos. Minha lanterna estava caída de lado e iluminava o corredor ao lado. Do corredor eu vi mais dois zumbis caminhando ao nosso encontro.

– Mateus! – gritei, tentando rolar para o lado com o zumbi.

Mateus tentou atirar. Seu braço estava machucado e ele errou. Ele não sabia o que fazer e deu um chute no zumbi que estava em cima de mim. Aquilo me salvou. O zumbi sentiu o golpe e perdeu o foco, tentando achar seu agressor. Naquele momento eu virei de lado e joguei o zumbi com a perna para o lado. Fiquei em pé de imediato e me preparei para atirar. Que merda! Os zumbis ao lado estavam se aproximando. Quatro metros. Eu apontei minha arma para o zumbi caído. Três metros. Ele tentava se levantar aos poucos, sendo difícil de mirar. Dois metros. Eu precisava agir. Um metro. Atirei. Me virei e o zumbi avançou sobre mim. Antes de eu atirar, ouvi um tiro. Mateus atirou e abateu o zumbi a menos de cinquenta centímetros do meu rosto. Sua cabeça explodiu bem na minha frente. O zumbi ao lado avançou sobre Mateus. Eu atirei. Não sei se acertei, mas o zumbi caiu. Mateus assustado recuou e se aproximou de mim. Apontamos as lanternas para todos os lados, mas não vimos mais ninguém. O zumbi caído se debatia e se contorcia. Parecia estar tendo uma convulsão ou um ataque epilético. Acho que meu tiro causou isso nele. Era um rapaz cabeludo e corpulento. Usava uma camisa xadrez azul e vestia uma calça jeans toda rasgada. No pé só uma bota, pois o outro estava descalço. Me aproximei e olhei para o pobre rapaz. Seus olhos cinzentos e vermelhos, sedentos por sangue. Sua presa ali, a centímetros dele e ele incapaz de ataca-la. Apontei a arma para ele e atirei. Aquilo me fez tremer. Eu estava mais calejado sobre aquilo tudo. Eu estava me acostumando a agir daquela maneira naquele inferno. Era bom, muito bom, mas eu não gostava nenhum pouco.

Depois daqueles acontecimentos decidimos voltar para nossa sala. Se tivessem mais zumbis por ali, ficariam para depois do amanhecer. Descemos as escadas e pegamos meu irmão. Voltamos com ele para a sala e ali ficamos. Não contamos para Amanda e Sofia o que havia acontecido.

Simplesmente ficamos quietos.

Escrito 15/08/2012 ás 13h05. Taubaté-SP

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