O medo, o desespero, a angustia, o pavor, o pânico, a constante sensação
de estar em perigo e de que a qualquer momento podemos nos ferrar estão fixadas
a nós desde que todo esse inferno começou. Mas quando entramos naquele prédio naquela
fábrica, não tivemos tempo de sentir isso. Foi tudo muito rápido. Muito mesmo.
Ao virar a lanterna para uma das paredes, me deparei com um vidro espelhado.
Não era só ali, e sim no corredor inteiro. A parede subia até um metro e meio e
o restante era de vidro espelhado até o teto. Isso seguia até o final do
corredor. Com certeza eram salas administrativas. Era um corredor grande e no
meio se dividia para os dois lados. Assim que nos aproximamos da divisão dos
corredores ouvimos um forte barulho. Olhamos para trás e vimos um dos vidros se
espatifar no chão. Ao apontar a lanterna vi um corpo sendo lançado para fora da
sala. De repente foram mais dois corpos que saltaram para fora. Outro vidro
quebrou do outro lado e mais zumbis se lançaram para dentro do corredor.
Ameaçamos sair correndo quando atrás de nós também aconteceu o mesmo. Estávamos
cercados.
- Temos que subir! – gritei.
Corremos para a esquerda, na pura adivinhação de que a escada seria por
ali. Apontei a lanterna e agradeci ao ver uma porta metálica com o sinal de
“escadaria”. Gustavo não pensou duas vezes e avançou contra a porta. Os
próximos três segundos quase fizeram nosso coração parar. Gustavo deu um tranco
na porta que não se abriu. Eu me virei e dei o primeiro tiro, mas errei. Foi
então que meu irmão percebeu seu erro. Aquela porta abria para dentro e não
para fora. Então ele puxou a enorme maçaneta de ferro e a porta se abriu com um
som totalmente pesado. Fazia tempo que aquela porta não era aberta por ninguém.
Assim que ameaçamos entrar, eu senti uma mão deslizar sobre minhas costas, mas
não me virei para descobrir quem era. Talvez a criatura quisesse somente um
abraço, mas eu não estava no clima naquele momento. A enorme porta metálica se
fechou atrás de nós e logo em seguida inúmeros zumbis se amontoaram nela para
abrir. Fiquei imaginando quanto tempo eles demorariam a perceber que ela só
iria se abrir para o lado de dentro. Mas eu não estava a fim de ficar ali para
descobrir. Olhamos e vimos à escada bem na nossa frente. A luz solar ali
entrava perfeitamente, dando para ver todo aquele lugar. Era uma escada enorme
com dois patamares, iguais as escadas da faculdade, porem maiores. No primeiro
lance da escada havia cerca de dez degraus, então virávamos para a direita e
subíamos mais dez. Ali não havia uma alma viva, ou morta. Mas isso não iria
garantir que do outro lado, no outro andar, não houvesse. Ali havia duas portas
metálicas. Teríamos que escolher uma. Mas independente disso precisávamos
subir, pois eram os únicos caminhos livres. Ou não.
***
Demoramos pouco mais de quatro minutos para decidirmos em cruzar a
próxima porta e irmos para o próximo andar. Durante aquele curto tempo eu
tentei imaginar o que poderia ter acontecido naquela fábrica para ter tantas
criaturas reunidas ali dentro. Nenhuma explicação lógica veio em minha mente.
Com esses pensamentos vazios na cabeça, meu irmão e eu paramos em frente
à porta que escolhemos atravessar. Respiramos fundo e puxamos a maçaneta.
Ali tivemos outra desgraçada surpresa.
Escrito 20/08/2012 ás 10h28.
Taubaté-SP
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