Escrevo isso enquanto tento recuperar minhas forças. Se meu senso de
distancia ainda funciona, creio que estejamos parados a uns novecentos metros
da fábrica. De cima do caminhão eu consigo ver a fábrica perfeitamente.
Realmente era uma fábrica, como imaginávamos. Vejo o portão principal, as
grades em volta, os galpões e os prédios. E eles... Aqueles desgraçados...
Malditos. Sobre a fábrica... Ela está longe de ser um refúgio. Muito longe.
Mais uma vez estou me antecipando aos fatos.
Assim que vimos à torre da fábrica ao longe e decidimos ir até lá,
partimos em direção ao nosso novo destino. Dirigimos até começar a anoitecer e
paramos para dormir. No dia seguinte partimos novamente. Não era tão perto como
imaginávamos e isso nos causou aflição, pois o combustível do caminhão poderia
acabar a qualquer momento. Porem nós vimos surgir ao longe à torre da fábrica,
nos fazendo acreditar que iriamos conseguir. Ou pelo menos chegarmos próximos.
As duas coisas aconteceram. Chegamos próximos da fábrica, mas o
combustível do caminhão acabou. Estávamos a cerca de mais ou menos um
quilometro da entrada da fábrica. Porem nós mal podíamos enxergar a fábrica de
onde estávamos no caminhão. E qual foi nossa ideia? Ir lá checar e ver se nós
poderíamos entrar com todos.
Mateus, que estava com o braço quebrado não poderia ir. Eu já estava
começando a me preocupar com o braço dele. Estava com uma cor roxa totalmente
fora do normal. Precisávamos fazer alguma coisa. Mas isso ficaria para outra
hora. Depois de pensarmos muito, mais uma vez decidimos que meu irmão e eu
deveríamos ir. E lá fomos nós. Cada um estava levando uma arma, uma lanterna e
um rádio walkie-talkie que meu irmão havia pegado do quartel.
Até aquele momento ele não havia sido útil em nenhuma ocasião. Mas agora
parecia que iria ser, pois poderíamos nos comunicar com Mateus, que ficaria no
caminhão. Então, com aqueles objetos na mão, partimos.
Demoramos alguns minutos até chegarmos ao portão da fábrica. Ela era
toda cercada por uma grade de mais ou menos três metros. O portão principal
deveria ter seus dois metros e era automático. Então, teríamos que pular. Na
torre de uns vinte metros estava escrito “Plastic”. Não conhecia nenhuma
fábrica com esse nome em Taubaté. De onde estávamos podíamos ver dois enormes
prédios pintados de azul e mais dois enormes galpões. Os prédios deveriam ser
da parte administrativa da fábrica, enquanto os galpões deveriam ser a área de
produção. Não pensamos duas vezes e pulamos. No meu relógio marcava oito e meia
da manha. Teríamos tempo suficiente para vasculhar a fábrica antes que
anoitecesse.
Caminhamos tranquilamente até um dos enormes prédios. Ele tinha cerca de
dez janelas em cada lado e três portas de entrada e saída. Uma na frente, outra
atrás e uma a esquerda de quem entrasse pelo portão principal. O prédio tinha
dois andares, mas era enorme em extensão. Assim que nos aproximamos da porta
principal, percebemos que estava semi-aberta. Olhamos um para o outro e
estranhamos. Eu abri a porta lentamente. Ali foi revelado um enorme corredor escuro.
Meu instinto me levou a procurar o disjuntor para acender a luz. Idiota. Mas
uma vez fui enganado pelos instintos básicos de um ser humano. Com as armas e
as lanternas nas mãos entramos no prédio.
Não conseguimos dar nem três passos e ouvimos um barulho. Como se uma
coisa tivesse caído.
Não estávamos sozinhos.
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