34° Registro

Assim que abrimos a porta, nos foi revelado outro corredor. Dessa vez bem mais iluminado, pois as janelas ao fundo estavam quebradas fazendo a luz do sol entrar com maior quantidade. Seria uma cena bonita de se ver. A luz do sol sendo refletidas nos vidros espelhados que também havia ali, dando um tom lindo no restante do corredor pintado de azul. As empregadas da limpeza da fábrica teriam acabado de limpar o corredor, deixando aquele gostoso cheiro de limpeza. Aquele que anima qualquer um para um dia de trabalho. Seria uma cena bonita de se ver se não houvesse ali alguns “detalhes” tirados do fundo do inferno.

Primeiro que o cheiro não era nenhum pouco agradável. Seria totalmente nauseabundo se não estivéssemos acostumados com ele. Ao longo desse tempo aprendemos a conviver com esse cheiro de morte. Mas é claro que ele era horrível, e rapidamente cobrimos o nariz com a camiseta. Logo perto de nós, a menos de um metro e meio estava o primeiro corpo. Um rapaz que deveria ter mais ou menos minha idade. Vestia umas roupas estranhas. No pé faltava um sapato. Nas mãos a ferramenta do crime. Um revolver calibre 38 da cor preta. Na cabeça a marca do crime. Um tiro certeiro e sem dó. Um meio encontrado para se livrar de todo aquele terror. Na parede ao lado podíamos ver o sangue seco misturado com o cabelo do rapaz. Mas não era só aquilo. A cena se estendia pelo corredor. Havia mais cinco corpos com marcas de tiros na cabeça. Isso me fez pensar no que aconteceu ali? Com certeza aquelas seis pessoas encontraram somente um meio de se livrar daquilo tudo. Se matarem. O pobre do rapaz deveria ter sido o encarregado de disparar a arma e matar a sangue frio os seus colegas. Algumas pessoas até ficariam felizes em fazer isso. Mas aqueles foram momentos de terror, angustia e pânico. Por fim ele se sentou no fim do corredor e se matou. Merda. Deve ser totalmente horrível saber que a única solução para se livrar desse inferno é acabar com a própria vida. Espero não ter que chegar a esse ponto.

Lentamente caminhamos nos esquivando dos mortos no chão. Fora os barulhos que os zumbis causavam lá em baixo tentando abrir a porta, ali naquele corredor estava tudo quieto. Se houvesse alguma criatura ali, estaria bem escondida. Caminhamos até o final do corredor e nos aproximamos da janela quebrada. Olhamos para fora e entendemos o motivo daquela janela quebrada. No chão, lá em baixo, jaziam dois corpos. Os pobres coitados se jogaram para a morte certa. Ao lado eu reparei uma porta semiaberta. Olhei para o meu irmão e decidimos entrar. A iluminação ali era muito boa também e podíamos ver toda a sala. Era talvez uma sala de reunião com uma mesa oval ao centro, algumas cadeiras espalhadas, uma estante no canto e um quadro branco no fundo com algumas anotações. Mas o que nos chamou mais atenção foi um galão de água ao lado da estante. Corremos até ele e bebemos até ficarmos entupidos. A água descendo minha garganta era revigorante. Senti como se minhas forças tivessem voltando, ganhando vida novamente. Na estante ao lado havia três barras de cereal envoltas de um papel escrito “Jorge”. Creio que ele não iria reclamar de pegarmos elas. O pobre homem deveria ser um daqueles com o miolo estourado, ou espatifado lá embaixo. Horrível. Rapidamente comemos duas barras de cereal. Não eram totalmente deliciosas, mas naqueles dias qualquer coisa comestível era bem-vinda. Totalmente bem-vinda. Coloquei a outra barra de cereal em meu bolso e dei meia volta pra sair daquela sala. Foi quando ouvimos o enorme estrondo vindo do andar de baixo. Não precisamos ir verificar para saber o que estava acontecendo. As criaturas estavam subindo.


Precisei pensar rápido, mas rápido mesmo. Não poderíamos correr o risco de ficarmos presos naquele andar, pois seria a morte na certa. As paredes eram de vidro e como se mostrou no andar de baixo, se quebram facilmente. Foi então que me lembrei da outra porta metálica. Aquela que não entramos, nas escadarias. Puxei meu irmão e saímos correndo, como se o próprio capeta estivesse atrás de nós. Assim que abri a porta avistei a primeira criatura subindo as escadas. Estava sozinha ali, mas logo abaixo umas quinze criaturas começavam a subir as escadas. Para atrasá-los eu atirei no zumbi mais perto o fazendo cair e rolar degrau abaixo. Meu irmão já havia aberto a porta e eu fui logo em seguida. Ali havia mais um lance de escadas e mais uma porta metálica, que eu sabia exatamente onde iria dar.

Assim que abrimos a outra porta nos deparamos com o terraço do prédio. Um enorme terraço. Ali havia duas caixas d’água, uma coisa que deveria ser a caixa de energia do prédio, cercada de grades e mais nada. Um enorme espaço vazio. Rapidamente procuramos uma escada de incêndio, mas não havia nenhuma. Se os zumbis chegassem até ali, e com certeza chegariam, teríamos uma única opção. Saltar. E se saltássemos teríamos um único destino. A morte.

Estávamos encurralados.

Escrito 20/08/2012 ás 10h35. Taubaté-SP

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